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TELEVISÃO
"Em TV pública, todo mundo mete o bedelho"
Presidente do conselho da Cultura, Cunha Lima revê os 40 anos da emissora
Autor do recém-lançado "Uma História da TV Cultura" defende qualidade e diz que audiência não pode ser obtida a qualquer custo
AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Na TV Cultura, eu pago e
não mando." É o que costumava dizer o governador Mario
Covas (1995-2001) nos encontros com Jorge da Cunha Lima,
nos anos 90, quando ele ainda
era presidente da Fundação Padre Anchieta. Com o atual governador, José Serra, a conversa, diz Cunha Lima, deve ser
mais "racional", mas "sem a mínima intervenção".
"Em comunicação, não só em
TV pública, todo mundo mete o
bedelho", avalia ele, agora presidente do conselho da emissora, que lança o livro "Uma História da TV Cultura", em comemoração dos 40 anos da TV. À
frente da fundação mantenedora do canal de 1995 a 2004,
Cunha Lima, 77, registrou depoimentos de pessoas que trabalharam na emissora, obteve
imagens históricas, pontuando
tudo com as mudanças de governadores de São Paulo.
"O único período, digamos,
de algum constrangimento de
natureza intelectual foi na época do [Paulo] Maluf, que evidentemente equipou a TV fortemente com as 180 torres no
interior, mas para ter um instrumento político", conta.
"Houve um acordo tácito: havia
liberdade para fazer cultura,
desde que não aborrecesse o
Maluf no jornalismo."
Polêmicas
Se o livro de Cunha Lima
narra as mudanças e o contexto
político da emissora, o prefácio
assinado por Eugênio Bucci,
ex-presidente da Radiobrás e
membro do conselho, é crítico
em relação a questões como a
presença de comerciais na programação, segundo ele, "um senhor problema".
Cunha Lima concorda: "É
um problema e foi criado por
mim". Agora, a emissora tenta
reduzir gradativamente os comerciais (nos infantis, a ação já
foi suspensa). "Hoje, no orçamento [R$ 194,7 milhões, sendo R$ 81 milhões do Estado],
publicidade não chega a 20%
dos nossos recursos", diz.
Polêmicas mais recentes, como a baixa audiência (a Cultura
tem média atual de só 1,4 ponto
no Ibope da Grande SP) que
provoca discussões "ferrenhas"
no conselho, soam, entretanto,
menores no livro. "Não vendemos audiência, e sim programação. O que interessa é qualidade." Mesmo assim, os conselheiros ainda discutem a carta
enviada, no dia 16, pelo secretário de Relações Institucionais
do governador José Serra, José
Henrique Reis Lobo, cobrando
números melhores. Apesar da
queixa do secretário, diz Cunha
Lima, "paira o consenso de que
não se pode ter audiência a
qualquer custo".
UMA HISTÓRIA DA TV CULTURA
Autor: Jorge da Cunha Lima
Editora: Imprensa Oficial
Quanto: R$ 80 (300 págs.)
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