São Paulo, sábado, 28 de março de 1998

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"Brasilidade" é despojada

Do Universo Online

Apesar da influência européia, preponderantemente portuguesa, há um traço muito peculiar e visível em vários períodos da evolução do mobiliário brasileiro: o despojamento das peças.
Para Marlene Acayaba, diretora do museu, o caráter despojado do móvel brasileiro se dá também por uma soma de precariedades: "As reproduções locais, desde o século 17, eram feitas não a partir de protótipos, mas por descrições escritas, orais e desenhos. O artesão brasileiro, quando ia fazer uma cópia, um móvel à moda de, acabava tendo de inventar".
Além dessa adaptação criativa no desenho do móvel, os materiais originais dos modelos não resistiam ao clima. As espécies de madeira mais usadas nos móveis europeus não suportavam as temperaturas e os cupins.
"Esse foi um grande impulsionador da descoberta das madeiras brasileiras e de suas características, em várias regiões do país."
Sem formação profissional tradicional, o artesão -em geral autodidata- também não tinha instrumentos e ferramentas sofisticadas. Na hora de executar o projeto do móvel, ele simplificava ornamentos, detalhes, encaixes, ferragens e rebuscamentos.
O clima também despiu o mobiliário de estofamentos de veludo e tecidos pesados, obrigando maior ventilação de encostos e diminuição do peso.
"Se analisarmos os móveis tradicionais e os móveis de designers do século 20, na Europa, vamos encontrar grandes rupturas de estilos, materiais. No Brasil, a mobília da nossa tradição é ecologicamente bem adaptada, desde o início", diz Acayaba.
"O móvel popular brasileiro sempre foi um erudito mais "clean'. O resultado é que no mobiliário popular temos peças básicas e muito próximas do móvel moderno", afirma.
E são esses móveis mais populares a base do acervo do museu, formado por coleções vindas de fazendas e casas do Estado de São Paulo. A partir desta mostra, o museu espera trazer para São Paulo exposições de acervos mais eruditos como os dos museus Castro Maia, do Rio, e Costa Pinto, de Salvador.
(MG)



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