São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2000


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O ASTRONAUTA

"O homem não foi a Marte porque não quis"

especial para a Folha, em Los Angeles

Ele foi contratado para inserir realidade em "Missão: Marte". Story Musgrave, 65, o astronauta com mais horas no espaço do mundo, abraçou o projeto e diz que os acontecimentos do filme são baseados em modelos absolutamente reais.
"O homem não foi a Marte até agora por um simples motivo: porque não quis", disse o astronauta à reportagem da Folha.
"Há 40 anos, as prioridades estabelecidas pelo governo americano foram missões na órbita da terra. Se tivéssemos como objetivo colocar o homem em Marte, já estaríamos lá", garantiu.
O astronauta não concorda com a estratégia. "Devemos buscar respostas às grandes perguntas dos seres humanos e elas estão lá fora", explicou.
Talvez por isso ele tenha mergulhado com tanto ímpeto no projeto de De Palma. Musgrave e outros técnicos da Nasa trabalharam na revisão do roteiro para deixá-lo mais verossímil, mas o veterano astronauta foi o único a estar no set durante os quase cinco meses de filmagem, orientando os atores em todas as cenas que envolviam gravidade zero.
"Quando cheguei a Vancouver, onde o set foi montado, fiquei arrepiado. Eram mais de 55 acres de terra, transformados com perfeição na superfície de Marte. Quase 480 mil litros de tinta foram necessários para chegar àquele perfeccionismo", contou.
"O filme é uma obra de arte no que diz respeito à imitação da superfície do planeta vermelho. Nem Marte deve se parecer tanto com Marte", brincou.
"Quando digo que a trama é real, levo em consideração que o homem não foi a Marte e, por hora, não planeja ir. A tecnologia, a relação entre tempo e espaço e as teorias exploradas no filme, por mais malucas que pareçam, são todas baseadas em fatos. Mas é bom lembrar que o resto é ficção", observa o astronauta.
Para ele, o filme é sobre a trajetória do personagem vivido por Gary Sinise. A viagem a Marte é o pano de fundo". "Marte sempre nos intrigou porque está logo ali e, dos planetas do sistema solar, é o que mais se assemelha à Terra. Por isso tanta curiosidade".
Mas o interesse de Hollywood pelo planeta vermelho manifestou-se um pouco mais tarde. Em tempo e espaço hollywoodianos, o que aconteceu foi uma chuva de roteiros sobre o tema quando, em 1997, a Pathfinder pousou por lá.
Escritores e produtores aproveitaram o acontecimento para viajar em histórias sobre o assunto. Duas delas receberam sinal verde - além de "Missão: Marte", "Red Planet" (Planeta Vermelho), com Val Kilmer, está em fase de pós-produção e deve estrear até o final do ano. Luxos de Hollywood: na falta de uma missão a Marte, haverá duas.
Fato é que quando, em 1989, o então presidente George Bush pediu ao congresso um plano para levar o homem a Marte, o custo inicial apresentado (US$ 450 bilhões) e o tempo estimado para realizar a missão (30 anos) engavetaram o projeto.
Mas Hollywood precisou de US$ 100 milhões e dois anos para fincar a bandeira dos EUA na superfície vermelha e realizar mais um grande sonho americano.
(ML)

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