São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2000


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Petrin dramatiza os silêncios beckettianos de Krapp

da Reportagem Local

"A peça se passa no estúdio decrépito de Krapp, em algum lugar do futuro". A rubrica inicial de Samuel Beckett (1906-1989) já percorre a espinha...
"A Última Gravação de Krapp" (Krapp's Last Tape, 1958) é um monólogo no qual o personagem contracena boa parte do tempo com sua voz ao gravador. Ou seja, consigo. Primeiro, reproduzindo depoimento de 30 anos atrás. Depois, acrescentando um novo e derradeiro registro. Nesse ínterim, Antônio Petrin é quem dá corpo e voz a um e a outro.
"O texto de Beckett traz um homem refletindo sobre si, sobre o que acumulou ou deixou de acumular em 69 anos de vida. Apesar dos traços de amargura, é um hino à existência", afirma Petrin, 62. Tudo é narrado no melhor estilo beckettiano, com humor e sarcasmo nas entrelinhas "recheadas" por longos silêncios. Não é propriamente um monólogo "solitário", pois Krapp surge materializado em sua própria voz num gravador de rolo, antigo aparelho em que registrou sua paixão frustrada por uma mulher.
Na montagem de 12 anos atrás, Petrin trocou o gravador de rolo pelo vídeo, segundo a concepção do então diretor Iacov Hillel. Na versão atual, assinada por Francisco Medeiros, segue-se fielmente o suporte sugerido por Beckett, o velho gravador de rolo. Petrin encontrou um modelo correspondente do aparelho quando perambulava pela feira de antiguidades da praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros.
Medeiros, 51, teve acesso aos "cadernos do diretor" que Beckett escreveu entre 1958 e 1988, período em que montou e remontou "A Última Gravação de Krapp" várias vezes. Graças ao pesquisador Fábio Souza Andrade, que possui o documento no formato fac-símile, Medeiros teve um parâmetro considerável para alcançar a essência do monólogo.
"Fiz um mix com as observações feitas pelo Beckett e acredito ter atingido a sua ironia cáustica", diz o encenador. "Mesmo falando do fracasso de um ser humano, ele dá uns sacolejos para a gente não ficar sentado em cima do fracasso, da comodidade."
A cenografia é de J.C. Serroni. Wagner Freire assina a iluminação e Raul Teixeira, a sonoplastia.
Ao lado do romeno Eugène Ionesco (1912-1994), também radicado em Paris, Beckett ("Esperando Godot", 1953) foi um dos pais do teatro do absurdo, movimento dramatúrgico surgido no início dos anos 50 e caracterizado por personagens bizarros e relativização da esperança, sobretudo no pós-guerra. (VS)


Peça: A Última Gravação de Krapp
Texto: Samuel Beckett
Tradução: Maria Adelaide Amaral
Direção: Francisco Medeiros
Com: Antônio Petrin
Quando: estréia hoje, às 21h30; qui. e sex., às 21h30; sáb., às 22h; dom., às 20h. Até 28/5
Onde: Teatro Brasileiro de Comédia -sala Arte (r. Major Diogo, 315, Bela Vista, tel. 0/xx/3115-4622)
Quanto: R$ 20


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