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Petrin dramatiza os silêncios beckettianos de Krapp
da Reportagem Local
"A peça se passa no estúdio decrépito de Krapp, em algum lugar
do futuro". A rubrica inicial de
Samuel Beckett (1906-1989) já
percorre a espinha...
"A Última Gravação de Krapp"
(Krapp's Last Tape, 1958) é um
monólogo no qual o personagem
contracena boa parte do tempo
com sua voz ao gravador. Ou seja,
consigo. Primeiro, reproduzindo
depoimento de 30 anos atrás. Depois, acrescentando um novo e
derradeiro registro. Nesse ínterim, Antônio Petrin é quem dá
corpo e voz a um e a outro.
"O texto de Beckett traz um homem refletindo sobre si, sobre o
que acumulou ou deixou de acumular em 69 anos de vida. Apesar
dos traços de amargura, é um hino à existência", afirma Petrin, 62.
Tudo é narrado no melhor estilo
beckettiano, com humor e sarcasmo nas entrelinhas "recheadas"
por longos silêncios. Não é propriamente um monólogo "solitário", pois Krapp surge materializado em sua própria voz num
gravador de rolo, antigo aparelho
em que registrou sua paixão frustrada por uma mulher.
Na montagem de 12 anos atrás,
Petrin trocou o gravador de rolo
pelo vídeo, segundo a concepção
do então diretor Iacov Hillel. Na
versão atual, assinada por Francisco Medeiros, segue-se fielmente o suporte sugerido por Beckett,
o velho gravador de rolo. Petrin
encontrou um modelo correspondente do aparelho quando
perambulava pela feira de antiguidades da praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros.
Medeiros, 51, teve acesso aos
"cadernos do diretor" que Beckett escreveu entre 1958 e 1988,
período em que montou e remontou "A Última Gravação de
Krapp" várias vezes. Graças ao
pesquisador Fábio Souza Andrade, que possui o documento no
formato fac-símile, Medeiros teve
um parâmetro considerável para
alcançar a essência do monólogo.
"Fiz um mix com as observações feitas pelo Beckett e acredito
ter atingido a sua ironia cáustica",
diz o encenador. "Mesmo falando
do fracasso de um ser humano,
ele dá uns sacolejos para a gente
não ficar sentado em cima do fracasso, da comodidade."
A cenografia é de J.C. Serroni.
Wagner Freire assina a iluminação e Raul Teixeira, a sonoplastia.
Ao lado do romeno Eugène Ionesco (1912-1994), também radicado em Paris, Beckett ("Esperando Godot", 1953) foi um dos pais
do teatro do absurdo, movimento
dramatúrgico surgido no início
dos anos 50 e caracterizado por
personagens bizarros e relativização da esperança, sobretudo no
pós-guerra.
(VS)
Peça: A Última Gravação de Krapp
Texto: Samuel Beckett
Tradução: Maria Adelaide Amaral
Direção: Francisco Medeiros
Com: Antônio Petrin
Quando: estréia hoje, às 21h30; qui. e sex., às 21h30; sáb., às 22h; dom., às 20h. Até 28/5
Onde: Teatro Brasileiro de Comédia -sala Arte (r. Major Diogo, 315, Bela Vista, tel. 0/xx/3115-4622)
Quanto: R$ 20
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