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Quixotes de Portinari voltam à luta
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
De todas as mais de 5.000 obras
que o prolífico Candido Portinari
espalhou em telas, papéis e até em
murais no prédio das Nações Unidas, em Nova York, um conjunto
de 21 desenhinhos elaborados
com lápis de cor desses que se
compra na esquina ficam em seu
pedestal particular.
As ilustrações que o artista de
Brodósqui fez em 1956 inspirado
no "Dom Quixote", de Miguel de
Cervantes, eram suas obras mais
queridas. A "confidência" foi feita
à Folha pela viúva do artista, Maria Portinari, em 1997.
A partir de hoje, qualquer um
pode ter o conjunto completo dos
"prediletos" do pintor modernista. Uma dobradinha da Fundação
Memorial da América Latina, que
comemora 15 anos, e do Museu
de Arte Contemporânea da USP,
em parceria com a Imprensa Oficial de São Paulo, resultou no álbum "D. Quixote - Portinari", que
será lançado hoje.
Evento que fecha as comemorações do centenário de Portinari
(1903-1962), coordenadas pela
fundação que leva o nome do artista, o lançamento será feito em
um cenário especial: o Salão de
Atos Tiradentes do Memorial, espaço projetado por Oscar Niemeyer, amigo de Portinari, onde fica
o grandioso painel portinariano
"Tiradentes", de 18 metros.
Feita em 1948, essa obra é oito
anos mais jovem do que a série de
desenhos apresentada no catálogo. Feitos a pedido do editor José
Olympio para ilustrar a segunda
edição da primeira tradução brasileira de "Dom Quixote", os desenhos começaram a ser feitos em
1956 (motivo pelo qual Antonio
Callado dizia: "No ano de 1956
Candido Portinari sagrou cavaleiro o lápis de cor").
Os rabiscos ágeis e coloridos de
Portinari só ganharam as livrarias
no final de 1972, após a morte do
artista. Foram lançados no álbum
de luxo "D. Quixote: Cervantes,
Portinari, Drummond", acompanhados de textos deste último, no
dia em que o poeta mineiro completou 70 anos.
Como escreveu Drummond,
sobre o "Quixote portinariano",
que "enche de felicidade os olhos
que o contemplam", os desenhos
foram feitos em um momento difícil do artista, quando ele não podia pintar. "Os sais de chumbo
das tintas envenenavam-no lentamente, e o médico lhe recomendou que parasse", escreveu
Drummond em 73. "Portinari,
que não fazia outra coisa senão
pintar, refugiou-se no desenho."
O Cavaleiro da Triste Figura,
que o "pintor de lápis em riste"
riscou, volta a sair do refúgio.
D. QUIXOTE DE PORTINARI.
Lançamento do livro: hoje, às 19h30.
Onde: Memorial da América Latina (av.
Auro Soares de Moura Andrade, 664, São
Paulo, tel. 0/xx/11/ 3823-4600). Grátis.
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