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Zé Celso e Gerald Thomas levantam bandeiras políticas em espetáculos que estréiam em SP
O TEATRO e seu DUPLO
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As novas peças de José Celso
Martinez Corrêa e Gerald Thomas, que entram em cartaz nesta
semana em São Paulo, estão impregnadas do discurso político.
Zé Celso, 68, por exemplo, faz
referências explícitas ao novo papa, Bento 16, em "A Luta - 1ª Parte". Ele mesmo, o diretor e ator,
que já interpretou um papa em
"Ela" (1997), de Jean Genet (1910-86), agora surge em vídeo caracterizado como o pontífice alemão.
"O Bento 16 diz que é preciso
enfrentar a ditadura do relativismo e cair na democracia do fundamentalismo. Mas são as democracias republicanas fundamentalistas que massacram os povos
que têm autonomia, como mostrou "Os Sertões", um livro universal e profético", diz Zé Celso.
A degola de soldados em Canudos (BA) é colocada em perspectiva pelas cenas de horror que militares norte-americanos protagonizaram em Fallujah, no Iraque.
A interpretação das realidades
brasileira e internacional (a mídia
é colocada em xeque o tempo todo) não está no panfleto. E se quer
orgânica. "Minha direção nasce
de uma visão poética que tenho
do teatro. Poética, para mim, é
política. É a mesma coisa. Poética,
política e poder. O poder do teatro", diz Zé Celso, que assina a
dramaturgia da transcriação do
épico de Euclides da Cunha.
Thomas, 50, diz que faz sua peça
"mais brasileira" em "Um Circo
de Rins e Fígados", que também
escreveu. Ao final, na seqüência
de um crime, a colorida bandeira
do país contracena com uma bandeira preta, à la Glauber Rocha.
Um dos atores do coro que vela
um cadáver traz na camisa a inscrição G-8. Tudo ao som do Hino
Nacional em versão batucada.
"Eu sou como o Brasil, não tenho solução, sou um problema",
diz o protagonista. Thomas se diz
"deprimido", "com vergonha da
reeleição de Bush, irado com a invasão do Iraque, furioso e frustrado pela morte tão absurda de
mais de uma centena de milhares
de civis iraquianos e com a transgressão escancarada de todos os
tratados assinados em Genebra e
em outros lugares a respeito do
respeito sobre os direitos humanos; irado e frustrado e perplexo
com estas chacinas no Brasil, essa
violência que não pára, com esta
burrice que a televisão mundial
espalha e que não pára, estes reality-shows que se procriam como
se fossem o outro lado do terrorismo..."
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