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COMIDA
Mercado de foie gras esquenta com volta de marca francesa; saiba a diferença entre a versão de pato e a de ganso
Quem paga pelo pato?
CRISTIANE LEONEL
DA REDAÇÃO
Num jantar realizado na última
segunda-feira no restaurante Tarsila, em São Paulo, foi relançada
no mercado nacional a marca
francesa de foie gras Rougier. O
evento marcou a volta da importação do produto fino ao país.
Agora, porém, a Rougier terá de
enfrentar um mercado mais competitivo -ao mesmo passo da
gastronomia brasileira, a produção nacional do fígado de pato se
expandiu, principalmente nos últimos três anos, tempo que a marca francesa esteve longe dos pratos nacionais.
O mercado do produto esquenta em meio ao avanço, principalmente na última década, de uma
gastronomia mais sofisticada em
São Paulo. O foie gras tem sua nobreza originada do processo de
produção, delicado e lento. Leva-se cerca de 15 semanas para extrair o fígado de um pato (ou ganso), que nem sempre é aproveitado, dependendo do tamanho.
Entre os principais motivos que
levaram ao aumento do consumo
de foie gras, está o fortalecimento
da produção nacional, como explica o chef Elizeu Pereira dos
Santos, do restaurante francês Le
Coq Hardy: "O aparecimento do
produto nacional foi muito bom.
Veja, por exemplo, o caviar, que
sumiu dos restaurantes porque
não dá para cobrar mais de R$ 200
por um prato". O caviar vendido
no Brasil é importado -uma lata
com 125 g de caviar da marca russa Cevruga, vendida sob encomenda no empório Santa Maria,
custa cerca de R$ 3.600.
Considerado um especialista na
preparação do foie gras, o chef
francês do La Brasserie, Erick Jacquin, acredita que o consumo do
prato no Brasil se consolidou porque a carne combina com os ingredientes encontrados por aqui.
"O fígado vai muito bem com frutas como manga e melão. É uma
fusão perfeita, porque o foie deve
ser preparado da maneira mais
simples e delicada possível."
Foie gras em disputa
A representante da Rougier no
Brasil, Graciela Gutierrez, explica
que a marca comercializará dois
produtos: o bloc de foie gras de
pato e de ganso com e sem trufas
(pedaços de diversos fígados em
conserva) e o foie inteiro congelado pelo método de "flash frozen"
(o fígado de pato é congelado rapidamente, logo após a extração).
"O método faz com que o produto, ao ser descongelado, fique
fresco e não tenha cristais de gelo", diz Gutierrez.
Sobre a competição com a produção nacional, Gutierrez diz que
a Rougier se diferencia pela tradição. "O Brasil ainda é iniciante na
gastronomia", afirma a representante da marca.
Inicialmente os produtos serão
vendidos em empórios chiques
paulistanos, como o Santa Luzia e
a Casa Santa Maria, mas a intenção da Rougier, segundo Gutierrez, é chegar aos supermercados.
A importadora ainda está em fase
de negociações.
Erick Jacquin compra o ingrediente do produtor Alexandre
Agrivert, de Campinas, no interior de São Paulo. O chef considera o fígado produzido no Brasil
quase tão bom quanto o importado. Além disso, é mais barato. "A
Rougier era uma das únicas opções que tínhamos, mas a produção cresceu muito no Brasil de
uns anos pra cá. Se ela não chegar
com um preço competitivo, vai ficar difícil se manter por aqui",
complementa.
Jacquin ressalta, no entanto, o
lado positivo da comercialização
da Rougier para os clientes. "O
bom é que eles fazem o produto
enlatado, em conserva, o que poderá ser vendido até em prateleira
de supermercado, algo que não
existe no Brasil atualmente."
Para a chef carioca Flávia Quaresma, a volta da marca francesa
também só será interessante se os
consumidores em geral, não só os
restaurantes, puderem ter acesso
ao produto. "Seria bom se eles
oferecessem o produto para o público, porque competir com o que
a gente tem aqui vai ser complicado", diz a chef-proprietária do
restaurante francês Carême, no
Rio de Janeiro.
"O foie gras francês é ótimo, e o
daqui considero bom. Mas acredito que o importado deve estar
custando mais do que o dobro",
diz o chef do Le Coq Hardy.
E ele tem razão. Enquanto um
quilo do foie gras nacional de pato
sai por volta de R$ 170, uma lata
com 310 g de bloc de fígado de
ganso da Rougier sai por R$
377,30 na Casa Santa Luzia, onde
já é vendido.
Outra produtora de foie gras no
Brasil é a Villa Germania, que fica
em Indaial (SC). A produção semanal da Villa, que também vende carnes de marreco e coelho, está por volta dos 400 kg semanais
de foie gras, segundo o diretor-administrativo da empresa, Marcondes Aurélio Moser. "A única
diferença em relação ao importado é que é feito por mãos francesas porque a gente importou a
técnicas deles", diz Moser.
Tanto na Villa Germania quanto na Agrivert, o pato utilizado para extração do foie gras é o resultado do cruzamento da raça Pekin
com a Barbárie, o chamado Mulard. Segundo Moser, a raça é a
mesma utilizada na França, onde
anos atrás só se utilizava o fígado
do ganso.
Pato à frente do ganso
Atualmente, tanto no Brasil
quanto na Europa, prefere-se utilizar o pato. "É um animal muito
mais dócil e seu ciclo de reprodução é mais rápido", explica Marcondes. Quanto à diferença da
carne do foie gras de ganso e o de
pato, Alain Poletto, chef do restaurante paulistano La Taverna,
afirma que o do pato tem a gordura mais concentrada, enquanto a
do ganso é mais suave.
"Embora o fígado do ganso seja
maior, o pato tem uma vantagem:
podem ser utilizadas outras partes, além do fígado, para fazer excelentes pratos, como confit e magret", conta o chef.
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