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foco
Projeto de Lina Bo Bardi vira divisória no restaurante do Masp
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
De 1968 a 1995, eles sustentavam Van Goghs, Rembrandts e Caravaggios. Essa
memória, no entanto, dificilmente é evocada pelo par de
"biombos" de vidro que separam a cozinha e a fila do caixa
no restaurante do Masp hoje.
É esse o destino que tiveram dois cavaletes de vidro
projetados pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992) como suporte para
obras do museu.
"Isso aí é original. Só colamos um plástico no vidro fosco para bloquear a visão da
cozinha", explica uma funcionária do restaurante, que fica
no subsolo do prédio concebido por Lina nos anos 60.
A administração do museu
afirma que as peças são réplicas feitas pelo restaurante. "É
para usar a mesma linguagem
do museu", disse à Folha o diretor Luiz Pereira Barreto.
Confrontado com o fato de
as "réplicas" apresentarem
quatro buracos na estrutura
do vidro, úteis para fixar quadros, mas não para a função
de biombo, Barreto disse que
o restaurante "pode ter usado
algum vidro que estava sobrando". "Aquilo é um cubo
de concreto com vidro. Qualquer um faz", diz.
Ideário modernista
Para o arquiteto Marcelo
Ferraz, que trabalhou com
Lina por 15 anos, o argumento é uma "desculpa esfarrapada". "Réplica ou não, trata-se
do projeto da Lina, que faz
parte do Masp tanto quanto o
edifício", avalia. "Essa utilização é uma violência contra
um ideário modernista, que
por si só precisa ser respeitado. É como se fizessem uma
réplica de uma cadeira de design consagrado e a transformassem numa privada."
"É assustador! Mas infelizmente é essa a maneira como
o Masp tem tratado a obra da
Lina", lamenta Solange Farkas, diretora do Museu de Arte Moderna da Bahia, também projetado pela arquiteta.
A simplicidade da peça
idealizada por Lina contrasta
com a ousadia de sua proposta: libertar a obra de arte das
paredes, criando a ilusão de
que flutuam no espaço, numa
convergência com o projeto
do próprio prédio, suspenso
na avenida Paulista.
Utilizados como suporte
para o acervo do museu desde
sua inauguração, em 1968, os
cavaletes foram retirados do
espaço expositivo e levados a
um depósito durante a gestão
do curador Luiz Marques, hoje professor de história da arte da Unicamp.
"Sou radicalmente contra
os cavaletes de vidro, mas eles
têm sua dignidade histórica e
não devem virar móveis e
utensílios pura e simplesmente", diz Marques.
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