São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2010

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foco

Projeto de Lina Bo Bardi vira divisória no restaurante do Masp

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

De 1968 a 1995, eles sustentavam Van Goghs, Rembrandts e Caravaggios. Essa memória, no entanto, dificilmente é evocada pelo par de "biombos" de vidro que separam a cozinha e a fila do caixa no restaurante do Masp hoje.
É esse o destino que tiveram dois cavaletes de vidro projetados pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992) como suporte para obras do museu.
"Isso aí é original. Só colamos um plástico no vidro fosco para bloquear a visão da cozinha", explica uma funcionária do restaurante, que fica no subsolo do prédio concebido por Lina nos anos 60.
A administração do museu afirma que as peças são réplicas feitas pelo restaurante. "É para usar a mesma linguagem do museu", disse à Folha o diretor Luiz Pereira Barreto.
Confrontado com o fato de as "réplicas" apresentarem quatro buracos na estrutura do vidro, úteis para fixar quadros, mas não para a função de biombo, Barreto disse que o restaurante "pode ter usado algum vidro que estava sobrando". "Aquilo é um cubo de concreto com vidro. Qualquer um faz", diz.

Ideário modernista
Para o arquiteto Marcelo Ferraz, que trabalhou com Lina por 15 anos, o argumento é uma "desculpa esfarrapada". "Réplica ou não, trata-se do projeto da Lina, que faz parte do Masp tanto quanto o edifício", avalia. "Essa utilização é uma violência contra um ideário modernista, que por si só precisa ser respeitado. É como se fizessem uma réplica de uma cadeira de design consagrado e a transformassem numa privada."
"É assustador! Mas infelizmente é essa a maneira como o Masp tem tratado a obra da Lina", lamenta Solange Farkas, diretora do Museu de Arte Moderna da Bahia, também projetado pela arquiteta.
A simplicidade da peça idealizada por Lina contrasta com a ousadia de sua proposta: libertar a obra de arte das paredes, criando a ilusão de que flutuam no espaço, numa convergência com o projeto do próprio prédio, suspenso na avenida Paulista.
Utilizados como suporte para o acervo do museu desde sua inauguração, em 1968, os cavaletes foram retirados do espaço expositivo e levados a um depósito durante a gestão do curador Luiz Marques, hoje professor de história da arte da Unicamp.
"Sou radicalmente contra os cavaletes de vidro, mas eles têm sua dignidade histórica e não devem virar móveis e utensílios pura e simplesmente", diz Marques.


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