São Paulo, terça, 28 de abril de 1998

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DISCO - LANÇAMENTO
Pulp


A banda britânica, liderada pelo dândi Jarvis Cocker, solta disco novo na Inglaterra depois de três anos; "This Is Hardcore" é o nome


LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Não é só o pé-na-bunda via satélite dado em Michael Jackson, em plena transmissão ao vivo de uma premiação musical no Reino Unido em 1996, que fez de Jarvis Cocker um sujeito bacana.
Darling maior da música pop britânica, alma e principalmente corpo do Pulp, uma das bandas mais queridas da Inglaterra, Cocker é o tal. Somente de uma mente como a sua poderia sair uma música como "Dishes", canção do recém-lançado CD "This Is Hardcore".
"Eu não sou Jesus, embora eu tenha as mesmas iniciais. Sou um homem que fica em casa e lava a louça. Eu não tenho milagres para lhe mostrar. Eu gostaria de transformar esta água em vinho, mas isso é impossível. Eu tenho que secar essa louça. Eu leria uma história se isso lhe ajudasse a dormir à noite. Eu estou fazendo o que posso para ajudar você", escreve Cocker na letra da canção.
Jarvis Cocker, se o paralelo permite, é uma versão inglesa para o desaparecido Renato Russo, outrora líder do Legião Urbana.
As músicas do Pulp são historinhas de amor, solidão, desentendimentos que saem da boca de Cocker, em uma narração teatral, direto para o fundo dos corações da garotada britânica.
E os meninos e meninas ingleses estavam com saudades das palavras de Cocker.
Este "This Is Hardcore" veio três anos depois que o Pulp chapou a Inglaterra com o best selling "Different Class" (95), obra da música pop encenada.
"Different Class" trouxe o hino "Common People" para o topo das paradas com um conto sobre um garoto que ensinou os prazeres e as dores de uma "vida comum" a uma menina rica e entediada que queria ser um pessoa "normal".
Com "Common People", depois de mais de 15 anos vagando com sua banda pelos porões do circuito universitário inglês (Jarvis fundou o grupo em 1978, em Sheffield), o Pulp chamava a atenção em meio aos estilhaços pop que vinham da guerra entre Blur e Oasis pelos ouvidos britânicos.
Agora, três anos mais tarde, depois de um relativo afastamento da cena para espiar para onde ia o britpop, Jarvis Cocker sem nenhuma conclusão aparente retoma suas histórias com "This Is Hardcore", álbum um pouco mais introspectivo e menos para tocar no rádio do que o bem-sucedido "Different Class".
Na bela canção "Help the Aged", Cocker pede para os jovens darem uma força aos mais velhos ("Se você olhar fixamente para a linha por trás das faces deles, poderá ver para onde você está indo; e perceber que lá é um lugar solitário").
No bolero mais pop do universo, a canção-título "This Is Hardcore", Cocker divaga sobre insatisfação sexual ("Eu gosto quando você sai de cima de mim, se é que você me entende. O que exatamente você faz para merecer uma segunda vez?").
Na popesca "I'm a Man", o Pulp encontra o Blur. Na experimentação trip-hop de "Seductive Barry", Cocker convida Neneh Cherry para um duelo sexual.
Depois do lançamento de "This Is Hardcore", já foi visto na imprensa inglesa as comparações: se Blur e Oasis são os Beatles e Stones da década, o Pulp é o The Kinks dos 90. E ainda: se "Ok Computer" (Radiohead) foi o "Dark Side of the Moon" destes tempos, "This Is Hardcore" é o "The Wall".
Jarvis Cocker ri de tudo isso: "O que eu tenho orgulho é de fazer um álbum sobre ficar velho e acabar no top 10 das paradas", disse em recente entrevista.
"This Is Hardcore" é um CD poderoso. E Jarvis Cocker tem mesmo muita classe. Em "The Day After the Revolution", Cocker vem com este final: "Por que é tão difícil perceber a pura verdade. A revolução começa e acaba com você... Nós conseguimos. O medo acabou... A culpa acabou... Ironia acabou... Bye, bye".


Disco: This Is Hardcore
Banda: Pulp
Lançamento: PolyGram (importado); a previsão de lançamento do disco no Brasil é final de maio


Onde encontrar/encomendar: lojas London Calling (tel. 011/223-5300); Sweet Jane (tel. 011/288-4847); Bizarre (tel. 011/220-7933)



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