São Paulo, terça, 28 de abril de 1998

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SEMANA DO CINEMA FRANCÊS
Filme do diretor francês Benoit Jacquot abre hoje, para convidados, a Semana do Cinema Francês em SP
"O Sétimo Céu' coloca o amor na balança

CECÍLIA SAYAD
enviada especial a Paris

Os desajustes e ajustes de um casal são o tema de "O Sétimo Céu", filme que abre hoje a Semana do Cinema Francês em São Paulo (para convidados) e, na quinta, no Rio.
Mathilde (Sandrine Kiberlain) ama Nico (Vincent Lindon), mas há algo errado. Sinais: excesso de fadiga e um irresistível impulso de roubar lojas de brinquedos. Na cama, ela se mostra frígida.
De repente, tudo muda. Mathilde passa por sessões de hipnose e redescobre o prazer. Então, é Nico quem perde o rumo.
O diretor de "O Sétimo Céu", Benoit Jacquot, que concedeu entrevista à Folha em seu escritório, disse que teve a idéia de fazer o filme ao presenciar uma cena de hipnose durante um jantar.
Jacquot participa da mostra competitiva do Festival de Cinema de Cannes deste ano com uma nova produção, cuja finalização foi concluída às pressas. Quando concedeu a entrevista, no último dia 10, o diretor acabara de concluir as filmagens. "Agora tenho que montar logo", afirmou.
"L' Ecole de la Chair" traz a atriz Isabelle Huppert (que vai abrir o festival) como uma mulher que se apaixona por um homem bem mais jovem do que ela, "com tendências homossexuais", segundo o diretor definiu, "o que não facilita as coisas para ela. É uma tórrida história de amor".
Leia a seguir os principais trechos da conversa.

Folha - Você já foi hipnotizado?
Benoit Jacquot -
Nunca. A razão de eu utilizar a hipnose no filme vem de uma experiência que eu vivi. Presenciei uma amiga ser hipnotizada durante um jantar do qual participavam vários psicanalistas. Ela estava entediada, e um dos psicanalistas (ainda que se professe que a hipnose é o oposto da psicanálise), quando o notou, hipnotizou-a.
Ele contou até três, e ela ficou em outro estado. Ele a fazia levantar o braço, andar ao redor da mesa. Ela virou objeto de uma brincadeira. Isso me deixou angustiado e revoltado. Eu me levantei e disse que, se ele não a acordasse imediatamente, chamaria a polícia.
Folha - Em que sentido a hipnose se opõe à psicanálise?
Jacquot -
Freud inventou a psicanálise para reagir à hipnose, ainda que tenha sido a hipnose praticada por Charcot, na França, que Freud presenciou em sua juventude, que o tenha levado a explorar o inconsciente, e a partir daí elaborar a teoria da psicanálise.
Folha - Você acredita na eficácia da hipnose?
Jacquot -
Não acho que ela possa curar ninguém. Mas a psicanálise também não pode. A hipnose pode aliviar. Conheço pelo menos três fumantes compulsivos que largaram o cigarro após sessões de hipnose.
Folha - No filme, há uma relação de dominação entre o casal Mathilde e Nico. Quando ela ganha maior segurança, ele se assusta.
Jacquot -
Viver a dois é vivenciar a reciprocidade: não é uma questão de dominação, é como uma balança. É necessário encontrar um ponto de equilíbrio, que nem sempre é estável. Quando um prato sobe, o outro desce. Mas, pessoalmente, penso que os homens são mais frágeis que as mulheres. Quando eles estão no prato que desce, sofrem muito.
Folha - Isso quer dizer que os homens necessitam de mulheres frágeis?
Jacquot -
De forma alguma.
Então é porque têm dificuldades para aceitar mudanças?
Jacquot -
Com certeza eles têm dificuldades em aceitar que a mulher que eles amam se transforme. A mudança da Mathilde é profunda e diz respeito à sexualidade. De repente, ele, que está acostumado a ter em seus braços uma pessoa passiva, descobre um lado dela que ele não conhecia.
Folha - O universo feminino o atrai mais do que o masculino?
Sim, pois eu sou homem. O interesse é maior quando se trata de algo que não conhecemos muito. Folha - Quando escreveu o roteiro, já estava pensando em Sandrine Kiberlain e Vincent Lindon para os papéis principais?
Jacquot -
Sim, tive a idéia da história e logo em seguida a propus aos atores, que aceitaram. Escrevi o roteiro para eles.
Vocês ensaiaram muito antes das filmagens?
Jacquot -
Não, eu nunca ensaio. E faço muito poucas tomadas. Como os atores participam do processo desde a escrita, não há necessidade de ensaiar. Por pelo menos três meses, falávamos muito sobre o filme, sobre os personagens, sobre como atuar. Uma vez no set, grande parte do trabalho já está adiantada.
Como você definiria o cinema francês hoje?
Jacquot -
Como um cinema imortal. Faço filmes há 20 anos e sempre ouço dizer que o cinema francês morreu. Mas ele sempre revela cineastas que dedicam sua vida a isso e que são muito bons.

Filme: O Sétimo Céu
Produção: França, 1997
Direção: Benoit Jacquot
Com: Sandrine Kiberlain, Vincent Lindon
Quando: em São Paulo, hoje (para convidados), às 20h30; dias 3 (às 19h) e 4 de maio (21h30), no Estação Vitrine; no Rio, dias 1º e 2, sempre às 19h30, no Estação Botafogo


A jornalista Cecília Sayad viajou a Paris a convite da Unifrance



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