|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para Adam Sandler, quanto mais idiota melhor mesmo
da Reportagem Local
Deve haver algo de muito errado
na América, e não é só porque garotos suicidas saem atirando a torto e a direito nas escolas. Guardadas as devidas proporções, um filme como "O Rei da Água" acumular mais de US$ 160 milhões nas bilheterias deve ser indicativo de algum distúrbio comportamental, e
pior, coletivo também.
Tudo bem que o comediante
Adam Sandler entrou no vácuo
deixado pelos atuais papéis mais
sérios de Jim Carrey (da série "Ace
Ventura") e conta com a empatia
do público por atuar cinco anos no
programa "Saturday Night Live",
uma espécie de "Casseta & Planeta" da TV americana. Mas ganhar
milhões por insultar a inteligência
do público já é demais.
Co-autor do roteiro, Sandler interpreta Bobby Boucher, um tipo
semi-retardado de 31 anos, superprotegido pela mãe autoritária
(Kathy Bates, de "Titanic"), que
serve água para os atletas de um time de futebol americano.
Numa troca de patrões, ele acaba
descoberto por um treinador decadente de um time decadente da
Louisiana e promovido a estrela da
temporada, com direito à babação
da descolada namorada (Fairuza
Balk, de "Jovens Bruxas").
Essa trajetória é narrada pelo diretor Frank Coraci com requintes
de mau gosto que beiram o grotesco. Coraci fez antes, em parceira
com Sandler e Drew Barrymore, a
comédia "Afinado no Amor", que
deve estrear no próximo mês por
aqui. Ele contou, pelo menos, com
o amontoado rudimentar de clichês de um filme de esporte e as falas burras dos personagens, mas
teve participação nesse desastre.
Some as catástrofes: a direção de
arte e o figurino são um horror à
prova dos mais entusiasmados defensores do revival dos 70 que até
já saiu de moda. Boucher e sua mãe
vivem num pântano isolado e comem sapos, cobras e lagartos.
A trilha sonora exagerada tenta
dar à história a amarração que o
roteiro lhe nega. Os personagens
secundários são uma galeria de caricaturas, na qual se destaca o assistente do treinador de Boucher,
que puxa os piercings do peito para comemorar as boas jogadas.
O trabalho (interpretação seria
injusto) de Sandler, que alguns críticos americanos chegaram a filiar
ao estilo de Jerry Lewis e à versatilidade de Carrey, e que seria herdeiro da tradição americana de aproximar o idiota ao ingênuo, como
fez brilhantemente Tom Hanks em
"Forrest Gump", não é apenas primário como irritantemente antipático. Mas, a julgar pela bilheteria, para Sandler e para o público
americano, quanto mais idiota
melhor.
(FÁTIMA GIGLIOTTI)
Avaliação:
Filme: O Rei da Água (The Waterboy)
Produção: EUA, 1998
Direção: Frank Coraci
Com: Adam Sandler, Kathy Bates
Quando: a partir de hoje nos cines Raposo
Shopping 7, Metrô Tatuapé 6 e circuito
Texto Anterior: "O Rei da Água": Filme traz novo astro da comédia boba Próximo Texto: Cinema de antigamente: Obra de Griffith passa como nos anos 10 Índice
|