São Paulo, Sexta-feira, 28 de Maio de 1999
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Para Adam Sandler, quanto mais idiota melhor mesmo

da Reportagem Local

Deve haver algo de muito errado na América, e não é só porque garotos suicidas saem atirando a torto e a direito nas escolas. Guardadas as devidas proporções, um filme como "O Rei da Água" acumular mais de US$ 160 milhões nas bilheterias deve ser indicativo de algum distúrbio comportamental, e pior, coletivo também.
Tudo bem que o comediante Adam Sandler entrou no vácuo deixado pelos atuais papéis mais sérios de Jim Carrey (da série "Ace Ventura") e conta com a empatia do público por atuar cinco anos no programa "Saturday Night Live", uma espécie de "Casseta & Planeta" da TV americana. Mas ganhar milhões por insultar a inteligência do público já é demais.
Co-autor do roteiro, Sandler interpreta Bobby Boucher, um tipo semi-retardado de 31 anos, superprotegido pela mãe autoritária (Kathy Bates, de "Titanic"), que serve água para os atletas de um time de futebol americano.
Numa troca de patrões, ele acaba descoberto por um treinador decadente de um time decadente da Louisiana e promovido a estrela da temporada, com direito à babação da descolada namorada (Fairuza Balk, de "Jovens Bruxas").
Essa trajetória é narrada pelo diretor Frank Coraci com requintes de mau gosto que beiram o grotesco. Coraci fez antes, em parceira com Sandler e Drew Barrymore, a comédia "Afinado no Amor", que deve estrear no próximo mês por aqui. Ele contou, pelo menos, com o amontoado rudimentar de clichês de um filme de esporte e as falas burras dos personagens, mas teve participação nesse desastre.
Some as catástrofes: a direção de arte e o figurino são um horror à prova dos mais entusiasmados defensores do revival dos 70 que até já saiu de moda. Boucher e sua mãe vivem num pântano isolado e comem sapos, cobras e lagartos.
A trilha sonora exagerada tenta dar à história a amarração que o roteiro lhe nega. Os personagens secundários são uma galeria de caricaturas, na qual se destaca o assistente do treinador de Boucher, que puxa os piercings do peito para comemorar as boas jogadas.
O trabalho (interpretação seria injusto) de Sandler, que alguns críticos americanos chegaram a filiar ao estilo de Jerry Lewis e à versatilidade de Carrey, e que seria herdeiro da tradição americana de aproximar o idiota ao ingênuo, como fez brilhantemente Tom Hanks em "Forrest Gump", não é apenas primário como irritantemente antipático. Mas, a julgar pela bilheteria, para Sandler e para o público americano, quanto mais idiota melhor. (FÁTIMA GIGLIOTTI)


Avaliação:
Filme: O Rei da Água (The Waterboy) Produção: EUA, 1998 Direção: Frank Coraci Com: Adam Sandler, Kathy Bates Quando: a partir de hoje nos cines Raposo Shopping 7, Metrô Tatuapé 6 e circuito


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