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Flor Garduño faz seu testemunho do tempo
free-lance para a Folha
Com o mesmo rigor técnico e artístico que utiliza para compor
suas impressões em platina, produzidas artesanalmente com o uso
de sais do metal, a mexicana Flor
Garduño mostra a partir de hoje
seu "Testigos del Tiempo".
A mostra está no Memorial da
América Latina. São 72 fotos em
preto-e-branco, que fazem parte
da documentação sobre os indígenas da América Latina, realizada às
vésperas do quinto centenário do
descobrimento da América (1492-1992).
Garduño, 42, fez viagens ao
Equador, Guatemala, México e Bolívia, investigando a identidade
dos indígenas.
Com o material recolhido, a fotógrafa descobriu que parte da cultura dos nativos desses países permaneceu praticamente intacta
apesar das influências européias e
norte-americanas.
Como os fotógrafos Hugo Cifuentes (1923) e Graciela Iturbide
(1942), que retrataram os nativos
dessas regiões, Garduño evidencia
as forças sobrenaturais que agem
sobre eles.
Elas são reveladas pela existência
da magia ambiental, que leva homens, mulheres e crianças a participarem ativamente das festas religiosas e a trabalhar nas lavouras de
forma quase ritualística.
Garduño mostra nos retratos dos
indígenas a estampa dos mistérios
indecifráveis, que se traduzem pela
manutenção das tradições. E pensar que elas já existiam antes da
descoberta da América.
Apesar de tudo, os nativos da
América Latina vivem situações
quase iguais às dos índios brasileiros, cujos territórios e identidade
foram e ainda são ameaçados pelo
desenvolvimento e pelos donos da
terra e do poder.
Garduño pertence a uma geração
de fotógrafos que tem dedicado a
vida em prol da preservação da
cultura indígena, além de reconhecer a soberania dos povos da floresta.
Suas imagens provocam reflexões sobre a dor e o medo e a alegria da liberdade. Algumas delas
fazem rememorar obras de precursores notáveis que estiveram
nos países latinos.
Principalmente as de Werner
Bischof (1916-1954), que morreu
em um desastre de automóvel na
região andina e foi autor da foto do
menino peruano tocando flauta,
que correu o mundo em 1954.
(AMG)
Exposição: Testigos del Tiempo
Quando: hoje, às 19h; ter. a dom., das 9h às
18h; até 6/6
Onde: Memorial da América Latina (galeria
Marta Traba de Arte Latino-Americana) (av.
Auro Soares de Moura Andrade, 64, tel.
3823-9725)
Quanto: entrada franca
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