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ERUDITO
Mezzo-soprano espanhola não canta óperas há três anos; concerto acontece hoje no Arthur Rubinstein
Brasil vê Berganza em fim de carreira
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Teresa Berganza vem ao Brasil
no crepúsculo de sua carreira. Aos
62 anos de idade, a mezzo-soprano
espanhola não canta mais óperas
-a última foi "Carmen", de Bizet, há três anos.
Uma das principais mezzos do
pós-guerra, Berganza ficou famosa pela presença cênica e pela facilidade em cantar as coloraturas
(ornamentação vocal floreada)
das óperas de Rossini.
Na Hebraica, acompanhada do
pianista Juan Parejo, ela canta
Haydn, Rossini e repertório espanhol. De sua casa, em San Lorenzo
de Escorial (Espanha), Berganza
concedeu entrevista à Folha por
telefone.
Folha - Por que a sra. não tem
cantado óperas?
Tereza Berganza - Tenho me
dedicado a recitais. A última ópera
foi "Carmen", há três anos. Não
cantei outras porque os teatros já
não me oferecem a segurança que
gosto de ter para trabalhar.
Folha - Qual o segredo para atingir uma carreira tão longa?
Berganza - Dedicar-se a ela durante a vida inteira. Fazer alguns
sacrifícios, como falar pouco, evitar ar-condicionado e não frequentar ambientes noturnos, onde há muita fumaça e se fala alto.
Há que se estudar sempre como se
fosse recém-saída do conservatório, e praticar esportes.
Folha - A sra. não se arrepende
um pouco de ter feito tantos sacrifícios pela carreira?
Berganza - Não se pode ter tudo na vida. Penso que os grandes
cientistas, médicos e escritores
também acabam dedicando tempo
demais a suas profissões.
Folha - Quais os ingredientes para uma boa mezzo rossiniana?
Berganza - Uma voz destas não
se faz, nasce predestinada, vem de
Deus. Tem que ser dúctil, ter uma
cor escura e uma extensão de duas
oitavas e meia. Como é -ou foi-
a minha voz.
Folha - Temos assistido a um surto de jovens mezzo-sopranos de
destaque. O que acha da geração
de Bartoli, Larmore e Borodina?
Berganza - Só conheço essas
cantoras por seus discos. Prefiro
não comentar, porque, em estúdio, é possível fazer muitos truques. Gosto muito da Frederica
Von Stade, que é da geração anterior à delas.
Folha - A sra. gravou canções de
Villa-Lobos e Ernani Braga. Como é
cantar em português?
Berganza - Soube que esse disco teve uma distribuição muito
ruim no Brasil, o que é uma pena.
Fiz esse repertório com muito gosto. Tive a ajuda de um amigo brasileiro para caprichar no sotaque,
acho que consegui me sair bem.
Folha - Quais seus planos de gravação?
Berganza - Um disco de canções galegas e um de canções de
Rossini. Assim como nas óperas,
não me oferecem boas condições
para os discos. Gosto de ter oito
dias para gravar. Com a atual crise
do mercado, porém, só me oferecem quatro -e eu sou incapaz de
trabalhar nessas condições.
Concerto: Teresa Berganza
Quando: hoje, às 21h
Onde: Teatro Arthur Rubinstein (r.
Hungria, 1.000, tel. 818-8800)
Quanto: R$ 70, R$ 55 (sócios da Hebraica)
e R$ 35 (estudantes)
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