São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997.



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ERUDITO
Mezzo-soprano espanhola não canta óperas há três anos; concerto acontece hoje no Arthur Rubinstein
Brasil vê Berganza em fim de carreira

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Teresa Berganza vem ao Brasil no crepúsculo de sua carreira. Aos 62 anos de idade, a mezzo-soprano espanhola não canta mais óperas -a última foi "Carmen", de Bizet, há três anos.
Uma das principais mezzos do pós-guerra, Berganza ficou famosa pela presença cênica e pela facilidade em cantar as coloraturas (ornamentação vocal floreada) das óperas de Rossini.
Na Hebraica, acompanhada do pianista Juan Parejo, ela canta Haydn, Rossini e repertório espanhol. De sua casa, em San Lorenzo de Escorial (Espanha), Berganza concedeu entrevista à Folha por telefone.

Folha - Por que a sra. não tem cantado óperas?
Tereza Berganza
- Tenho me dedicado a recitais. A última ópera foi "Carmen", há três anos. Não cantei outras porque os teatros já não me oferecem a segurança que gosto de ter para trabalhar.
Folha - Qual o segredo para atingir uma carreira tão longa?
Berganza
- Dedicar-se a ela durante a vida inteira. Fazer alguns sacrifícios, como falar pouco, evitar ar-condicionado e não frequentar ambientes noturnos, onde há muita fumaça e se fala alto. Há que se estudar sempre como se fosse recém-saída do conservatório, e praticar esportes.
Folha - A sra. não se arrepende um pouco de ter feito tantos sacrifícios pela carreira?
Berganza
- Não se pode ter tudo na vida. Penso que os grandes cientistas, médicos e escritores também acabam dedicando tempo demais a suas profissões.
Folha - Quais os ingredientes para uma boa mezzo rossiniana?
Berganza
- Uma voz destas não se faz, nasce predestinada, vem de Deus. Tem que ser dúctil, ter uma cor escura e uma extensão de duas oitavas e meia. Como é -ou foi- a minha voz.
Folha - Temos assistido a um surto de jovens mezzo-sopranos de destaque. O que acha da geração de Bartoli, Larmore e Borodina?
Berganza
- Só conheço essas cantoras por seus discos. Prefiro não comentar, porque, em estúdio, é possível fazer muitos truques. Gosto muito da Frederica Von Stade, que é da geração anterior à delas.
Folha - A sra. gravou canções de Villa-Lobos e Ernani Braga. Como é cantar em português?
Berganza
- Soube que esse disco teve uma distribuição muito ruim no Brasil, o que é uma pena. Fiz esse repertório com muito gosto. Tive a ajuda de um amigo brasileiro para caprichar no sotaque, acho que consegui me sair bem.
Folha - Quais seus planos de gravação?
Berganza
- Um disco de canções galegas e um de canções de Rossini. Assim como nas óperas, não me oferecem boas condições para os discos. Gosto de ter oito dias para gravar. Com a atual crise do mercado, porém, só me oferecem quatro -e eu sou incapaz de trabalhar nessas condições.

Concerto: Teresa Berganza Quando: hoje, às 21h Onde: Teatro Arthur Rubinstein (r. Hungria, 1.000, tel. 818-8800) Quanto: R$ 70, R$ 55 (sócios da Hebraica) e R$ 35 (estudantes)


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