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CINEMA
Cineastas propõem criação de agência reguladora e de taxa sobre faturamento de TVs para financiar produção
Congresso discute nova política para o setor audiovisual
DA REPORTAGEM LOCAL
Começa hoje à noite em Porto
Alegre o 3º Congresso Brasileiro
de Cinema, evento que pretende
discutir e estabelecer um novo
modelo de política para o setor.
As principais discussões do encontro serão a criação de uma
agência governamental para o cinema, novas formas de financiamento da produção, distribuição
de filmes brasileiros, globalização
e relação com a TV.
O último congresso nacional do
mercado cinematográfico brasileiro ocorreu há 47 anos.
Até sábado, o encontro de Porto
Alegre deverá reunir 150 profissionais de 30 entidades, representando todos os segmentos do setor. Serão três seminários e oito
grupos de trabalho, que, no final,
deverão gerar um documento que
consolidará uma "plataforma mínima e consensual do cinema brasileiro", segundo Gustavo Dahl,
presidente do congresso.
Três propostas devem polarizar
as discussões: a abertura dos mecanismos da Lei do Audiovisual
(hoje restritos aos produtores independentes) à televisão, a criação de uma taxa sobre o faturamento das redes de TV e a obrigatoriedade das emissoras exibirem
filmes brasileiros.
Os produtores de cinema são
contra a proposta do governo federal de abertura da Lei do Audiovisual, pela qual empresas investem em filmes em troca de incentivo fiscal. A lei possibilitou a
produção de mais de 120 filmes
nos últimos cinco anos.
"Há uma posição unânime da
categoria de que a Lei do Audiovisual é o espaço do cinema independente", diz o cineasta Dahl.
Pela proposta do governo, emissoras poderiam captar recursos
em empresas e realizar filmes.
A solução para alavancar a produção nacional, entendem cineastas, seria a criação de uma taxa sobre as TVs, como ocorre na
França. As redes poderiam produzir filmes "comerciais" com os
recursos desse fundo.
A relação do cinema com a TV
será tema de um seminário que
terá o diretor de cinema Cacá Diegues e o vice-presidente de relações institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães,
também representante da Abert
(Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).
A obrigatoriedade de exibição
de filmes brasileiros pela TV não é
consenso entre cineastas e produtores, mas o congresso de Porto
Alegre quer iniciar uma negociação com as redes.
"Durante 30 anos, a TV aberta
nacional não se abriu para o cinema brasileiro. Não estou dizendo
que o cinema nacional seja uma
maravilha, mas não é pior do que
a média do que a TV vem exibindo", afirma Dahl.
O congresso também deverá
polemizar com o governo federal
no seminário "O Papel do Estado", que terá como expositor o secretário nacional do Audiovisual,
José Álvaro Moisés.
O governo tem resistido à proposta de produtores de se criar
uma agência nacional do cinema,
vinculada ao Ministério da Cultura, mas com gestão coletiva.
O setor defende a criação de
uma agência não só para fortalecer a política pública do cinema,
mas também para gerar informações sobre o mercado. Dados disponíveis sobre bilheterias de filmes, por exemplo, não são centralizados em um órgão público.
O 3º Congresso Brasileiro de Cinema irá discutir até que ponto o
Estado deve regular (e financiar)
o mercado, mas é consenso na categoria que o cinema nacional
não irá crescer sem uma política
governamental agressiva. Defendendo a proposta de uma agência,
o mercado toma o governo como
referência, mas como uma posição de independência, conclui
Gustavo Dahl.
(DANIEL CASTRO)
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