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Com integrantes em Milão, Madri e Paris, o trio cubano Orishas faz rap globalizado em "Emigrante", segundo CD
Cuba-Libre
CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL
Até o início de 2000, os cubanos Yotuel, Ruzzo e Roldán eram apenas rostos na multidão de imigrantes que circula por Paris.
Meses depois, eles se tornam a
sensação do rap "europeu", com
o disco "A lo Cubano", um estouro de vendas e de crítica.
No disco, eles gravaram uma
versão do sucesso de "Chan
Chan", do velhinho Compay Segundo. A música "537 Cuba" estourou no mundo todo e serviu de
passaporte para que os Orishas
viajassem o mundo.
Com os olhares do mundo -e
principalmente os de sua gravadora- voltados para si, eles entraram em estúdio para gravar o
sucessor de "A lo Cubano".
E saíram dele com "Emigrante",
disco que chega agora às lojas,
embaixo do braço.
Mas, afinal, o disco reza sob a
cartilha da gravadora? A pressão
foi enorme? Yotuel, o negro bonitão do grupo, reponde:
"A pressão foi mesmo absurda.
Foi tanta que entramos no estúdio
achatados", diz. Nem por isso o
disco saiu ruim, viu, Yotuel.
E a passagem pelo Brasil, aquela
comoção toda, com garotas se
descabelando na fila do gargarejo
mesmo num evento "fino" como
o Free Jazz? Yotuel, diga lá: "Nós
também não entendemos o porquê de tudo aquilo".
Ele falou à Folha sobre essas e
outras coisas, por telefone, de Madri, onde mora. Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - Depois do sucesso de "A lo
Cubano" vocês devem ter tido medo de entrar no estúdio, não?
Yotuel - Com certeza. A gente sabia que a coisa não ia ser fácil depois do que aconteceu com o nosso primeiro disco. A pressão foi
mesmo absurda. Foi tanta que entramos no estúdio achatados. É
claro que a gente não podia ter na
cabeça que iríamos repetir tudo o
que fizemos no outro CD. Pensamos assim: vamos esquecer tudo
o que fizemos em "A lo Cubano" e
vamos fazer música, só isso. Foi o
único jeito de tirar um pouco o
peso das nossas costas.
Folha - O resultado é bem mais
europeu também. Com um integrante morando em Paris, outro
em Milão e você em Madri, não vai
ficar difícil manter o espírito cubano do primeiro disco por muito
mais tempo?
Yotuel - Não sei. É claro que somos muito influenciados por grupos da França, que tem um hip
hop muito desenvolvido. Na verdade, por grupos de toda a Europa. Acho que hoje fazemos um
som bem globalizado. Mas nosso
tempero sempre vai ser cubano,
porque é nossa raiz. Não há como
negar isso. E também não estamos preocupados em seguir uma
fórmula mágica para fazer sucesso. Se aquilo deu certo em "A lo
Cubano", ótimo. Agora não podemos ficar bitolados na mesma
tecla a vida toda. Isso seria muito
chato.
Folha - O que você recorda das
apresentações no Brasil?
Yotuel - Foi uma loucura. Foram
dois shows inesquecíveis para
nós. O que mais nos chamou
atenção foi que as mulheres ficaram loucas. Eu só via meninas
perto do palco, gritando muito,
fazendo gestos. Nós não entendemos o por que de tudo aquilo.
Quer dizer, somos tipos latinos,
que também são bem comuns aí
no Brasil. A verdade é que achamos ótimo tudo o que aconteceu
aí. O público em geral foi muito
acolhedor. Nem tenho certeza se
as pessoas conheciam bem o disco. Mas isso é o que menos importa. Ah, outra coisa que achamos legal foi ver toda a equipe de
apoio da Macy Gray [que também
tocava no Free Jazz" no backstage
do nosso show. Não vemos a hora
de voltar com tempo para conhecer o país, gostaria de passar um
mês inteiro por aí, tocando, visitando lugares.
Folha - E a nova turnê deve chegar até aqui?
Yotuel - Sim, certamente. Não
posso dizer quando exatamente.
Mas acho que não deverá demorar muito.
Folha - Vocês saíram de Cuba e
hoje moram em diferentes cidades
da Europa. Viraram um grupo de
rap globalizado?
Yotuel - É bom que cada um viva
numa cidade diferente, isso acaba
nos unindo mais. A cada encontro nosso, temos coisas novas para mostrar. Como tem essa distância, nossos ensaios são sempre
feitos com vontade. Ninguém
quer perder tempo. E nunca sentimos que a coisa é feita por obrigação. Não temos como cair numa rotina repetitiva desse jeito.
Folha - No novo disco vocês falam
bastante sobre temas como luta social, exílio, globalização. Há palavras de ordem e tudo. Parece um
disco mais socialmente responsável do que "A lo Cubano", não?
Yotuel - Quando entramos no
estúdio para gravar "A lo Cubano" não tínhamos idéia do que ia
acontecer. Não sabíamos nas
mãos de quem aquilo iria parar.
Na verdade, não esperávamos todo esse sucesso. Depois que passamos a ser conhecidos em vários
países do mundo, nos pareceu
mais inteligente fazer um disco
não apenas divertido, não apenas
para uma comunidade. Para resumir, o primeiro disco foi feito com
base na nossa realidade de Cuba.
"Emigrante" já tem a nossa vivência de Europa, ampliamos nossos
horizontes.
Folha - Parece que bateu uma responsabilidade?
Yotuel - Acho que sim, mas no
bom sentido. Temos vontade de
seguir em frente, queremos construir uma carreira sólida.
Folha - Isso significa que vocês
não pensam em voltar a Cuba?
Yotuel - Seria quase impossível
voltar para Cuba agora. Teremos
sempre o maior orgulho de voltar
para lá e fazer shows. E também
acompanhamos as notícias de lá
sempre.
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