São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2006

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Mostra lembra chegada da foto ao Rio

Além da capital, o suíço Georges Leuzinger realizou imagens de Niterói, Petrópolis e Teresópolis durante o século 19

Tema de livro a ser lançado junto com a exposição, Leuzinger teve papel fundamental na introdução da nova técnica no país


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É possível traçar um paralelo histórico entre a evolução da arte da representação no Brasil e a paisagem do Rio de Janeiro.
É o que fica visível com a abertura da exposição "Georges Leuzinger: um Pioneiro do Século XIX" e o lançamento do "Cadernos de Fotografia Brasileira" sobre o mesmo autor, no Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio de Janeiro, hoje.
Leuzinger nasceu na Suíça, em 1813, e se radicou no Brasil em 1832, para trabalhar numa empresa de importação e exportação de seu tio. Oito anos depois, ele compraria uma papelaria e encadernadora. Estava criado o núcleo inicial da Casa Leuzinger, que se tornaria uma das maiores empresas de impressão e artes gráficas do Brasil no século 19, e cujas atividades perdurariam por mais de um século.
A fotografia, inventada oficialmente em 1839, chegaria aqui de forma efetiva pelas mãos de fotógrafos europeus na década de 1850, quando o Brasil passava por uma "reorientação decisiva em sua economia e política, com a proibição do tráfico de escravos. É a partir dessa época que o Rio de Janeiro passa a ser servido por uma linha regular de navios fazendo a ponte com a Europa.
Esse advento atrela o país ao tempo da modernidade européia", escreve o historiador Carlos Martins, no "Cadernos".
A visita crescente de estrangeiros e a facilidade em receber e enviar materiais pelos navios fez a paisagem carioca ser difundida em larga escala por meio de cartões-postais. Foi esse um dos principais nichos em que a Casa Leuzinger atuou.
Entre a chegada da família real portuguesa, em 1808, e a invenção da fotografia, a paisagem era representada pelo desenho e pela pintura. A partir de 1850, a mesma paisagem passa a ser fotografada por nomes como Victor Frond (1821-1881) e o próprio Leuzinger.
Para o pesquisador Pedro Vasquez, a particular contribuição de Leuzinger foi "efetuar o primeiro grande projeto de transcrição fotográfica da cidade, que resultou num levantamento minucioso, obsessivo, rigoroso e atraente, que só encontraria similar mais tarde nas produções consagradas de Marc Ferrez e Augusto Malta".
Em 2000, os descendentes de Georges Leuzinger doaram ao IMS 290 itens, entre documentos, fotografias e impressões realizadas na tipografia da Casa Leuzinger.
Uma equipe de pesquisadores conseguiu realizar um rigoroso trabalho de reconstituição histórica, além de recuperar as imagens realizadas pelo empreendedor suíço. Tanto no livro como na mostra, há uma extensa série de vistas de Rio, Niterói, Serra dos Órgãos, Teresópolis e Petrópolis realizadas entre 1865 e 1866.
O estilo clássico e documental privilegia a beleza da paisagem em detrimento dos habitantes da cidade. Trata-se de um dos mais importantes inventários iconográficos oitocentistas realizados no Brasil.


GEORGES LEUZINGER: UM PIONEIRO DO SÉCULO XIX
Quando:
vernissage e lançamento do livro hoje, às 19h30 (para convidados); de amanhã até 1º de outubro, de ter. a dom., das 13h às 20h
Onde: Instituto Moreira Salles (r. Marquês de São Vicente, 476, Gávea, Rio, tel. 0/xx/21/3284-7400)
Quanto: exposição: entrada franca; livro: R$ 80


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