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Marisa Orth ressuscita "Fica Comigo Esta Noite"
Atriz volta a SP com peça de Flavio de Souza que marcou sua estréia no palco, há 18 anos
Montagem tem direção
de Walter Lima Jr. e Murilo Benício como o morto que passa a limpo relação com viúva durante velório
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A atriz Marisa Orth tinha 25
anos quando estreou profissionalmente no palco, num teatro
que se chamava Igreja, no Bexiga, em São Paulo. Fazia o papel
de uma viúva na noite do velório do marido -estirado na cama, e não no caixão, encostado
no corredor da casa. Afinal, era
e é uma comédia mais sobre a
alcova do que sobre o além.
Orth, 43, volta a "Fica Comigo Esta Noite", de Flavio de
Souza, que a dirigiu em 1988. A
nova montagem é assinada por
Walter Lima Jr., cineasta recém-chegado ao teatro. Estreou no Rio em 2006, girou
por vários Estados e cumpre
temporada em São Paulo a partir de amanhã, no Teatro Folha.
A intérprete da viúva diz que
amadureceu com as experiências desses 18 anos; ela, que se
tornou uma celebridade de novelas, programas humorísticos
e capas de revista masculina.
"Hoje, minha idade é mais
próxima à da viúva. Antes, era
difícil imaginar uma mulher
que tivesse vivido um casamento de mais de dez anos, sofrido
desgastes. Eu era muito nova,
não tinha subsídios para falar
de amor e de morte", diz Orth.
No final dos anos 80, ela freqüentava o underground com a
banda Luni, ao lado de Théo
Werneck, Natália Barros e outros. Emendou depois com a
banda Vexame. A carreira logo
virou revezamento entre música, teatro, TV e cinema.
De volta ao cartaz em um palco da cidade onde nasceu, Orth
atribuiu sua revelação, na época, à qualidade do texto de Souza. Aquela versão era praticamente um monólogo. O defunto, interpretado por Carlos Moreno, tinha menos peso nas falas e ações. Agora, a atriz contracena com Murilo Benício.
Foi com a produção carioca
de 1990, dirigida por Jorge Fernando e interpretada por Débora Bloch e Luiz Fernando
Guimarães, que Souza consolidou a dramaturgia. "Uma comédia de velório", como brinca
Orth. Ou uma "comédia dramática", como prefere o autor.
Ela é uma dona de casa que
nunca saiu do bairro onde nasceu. O clímax de sua vida foi o
casamento. Ele, funcionário de
uma firma medíocre, teve o ápice da existência na morte.
Na peça, os personagens
atravessam presente e passado.
A viúva é a interlocutora das
pessoas invisíveis que dão as
caras na noite: o chefe dele, as
moças do escritório, o padre, a
vizinhança, os parentes etc.
O espectador é cúmplice das
falas-pensamentos do morto,
que levanta da cama e circula
para lá e para cá. "Faz tempo
que morri. Olha, estou com o
terno novo. De gravata. É a
mesma do casamento. O quarto
está cheio de gente. Não me puseram na sala. Ela não quis", diz
ele, em tom confessional.
No princípio, ela não ouve as
intervenções do "espírito". Até
que, na segunda parte do espetáculo, numa atmosfera de sonho, eles ficam sozinhos (todos
são expulsos da casa). Finalmente, entabulam uma conversa e acertam as contas na cerimônia particular de adeus.
"Apesar de certas passagens
patéticas, a comédia emociona,
faz o público sair do teatro e
pensar sobre relações, despedidas, tempo perdido", diz Orth.
FICA COMIGO ESTA NOITE
Onde: Teatro Folha - shopping Pátio
Higienópolis (av. Higienópolis, 618, 2º
piso, tel. 0/xx/11/3823-2323)
Quando: estréia amanhã, às 21h30;
sex., às 21h30; sáb., às 20h e 22h; e
dom., às 19h30. Até 16/9
Quanto: R$ 60
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