São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2011

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Gustavo Dahl, cineasta militante, morre aos 72 na Bahia

Crítico e gestor cultural, ex-diretor da Ancine esteve à frente dos principais órgãos ligados à atividade audiovisual no Brasil

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Foi na sala de cinema, durante a projeção de um filme, que o coração de Gustavo Dahl parou de bater.
O mais militante dos cineastas brasileiros morreu anteontem, em Trancoso, na Bahia, em decorrência de um infarto fulminante.
Dahl tinha 72 anos e, há cinco anos, gerenciava o Centro Técnico do Audiovisual (CTAV), ligado ao Ministério da Cultura (MinC).
Ali, além de coordenar o apoio à produção de curtas e longas-metragens, cuidou do renascimento da revista "Filme e Cultura", que circulara no país entre 1965 a 1988.
As novas edições da revista, editadas a partir de 2010, podem ser consideradas seu último ato político. Nas páginas da publicação, o cinema brasileiro era tratado como arte e indústria, como artigo cultural e produto econômico. E foi essa, sempre, a bandeira erguida por Dahl.

GESTOR E INTELECTUAL
Entre o grande público, o nome de Dahl pode ser menos conhecido que o de Cacá Diegues ou o de Nelson Pereira dos Santos. Mas, no meio cinematográfico, sempre funcionou como farol.
É que a liderança política de Dahl soube unir duas vertentes: a do gestor público e a do intelectual.
Filho de pai argentino e mãe brasileira, Dahl passou parte da infância em Montevidéu, mas ainda garoto mudou-se para São Paulo.
Apadrinhado por Paulo Emílio Salles Gomes, começou a escrever sobre cinema no Suplemento Literário de "O Estado de S. Paulo", no final da década de 1950. Logo depois, passaria a trabalhar na Cinemateca Brasileira.
Materializava-se assim a paixão que o acompanharia até o fim da vida.
Depois de estudar cinema na Itália e em Paris, Dahl voltou para o Brasil, mas trocou São Paulo pelo Rio.
Primeiro como montador ("A Grande Cidade", "Passe Livre") e depois como diretor ("O Bravo Guerreiro"), foi, ao lado de Cacá Diegues, Paulo César Saraceni e Glauber Rocha, um dos artífices do Cinema Novo.
Mas o set nunca foi o bastante para Dahl. Crítico e ensaísta, escreveu em jornais, revistas e publicações acadêmicas. Assinou, nos anos 1970, um artigo histórico, chamado "Mercado e Cultura", que propunha a superação dessa dicotomia.

EMBATES
E se Dahl entrou para a história do cinema brasileiro é também porque, como gestor público, tentou colocar em prática a tese que sua porção intelectual forjou.
Seu primeiro cargo político foi a superintendência comercial da Embrafilme, numa época em que o cinema nacional chegou a ocupar um terço do mercado. Viriam depois a presidência da Associação Brasileira de Cineastas (1981-1983), o Concine (1985) e, por fim, já no início dos anos 2000, a liderança do Congresso Brasileiro de Cinema, que está na origem da política cinematográfica hoje em vigor no país.
Como primeiro presidente da Ancine (Agência Nacional de Cinema), cargo que ocupou de 2001 a 2006, Dahl, como sempre, enfrentou embates, recebeu críticas e amealhou elogios. Fez, enfim, política. Política e cultura.


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