São Paulo, segunda, 28 de julho de 1997.



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SHOW
Cantora e pianista norte-americana fez sua última apresentação em São Paulo ao ar livre na tarde de ontem
Nina Simone leva 35 mil ao Ibirapuera

da Reportagem Local

Cerca de 35 mil pessoas, segundo a PM, foram ao parque Ibirapuera na tarde de ontem para assistir à última apresentação da cantora e pianista norte-americana Nina Simone em São Paulo.
Ao contrário do normal, em espetáculos no parque, Simone quis cantar à tarde. Ela subiu ao palco da praça da Paz às 16h03, com apenas três minutos de atraso, vestindo uma túnica branca com detalhes em dourado.
Sentou-se ao piano preto, posicionado no lado esquerdo do palco, e começou o show com "God God God", acompanhada pelos músicos Al Schakman, na guitarra, Paul Robinson, na bateria, e Leopold Flemming, na percussão.
Seguiu com os clássicos "I Love You Porgy", de Gershwin, e "My Way" em versão quase afro. O repertório contou ainda com "Ne Me Quitte Pas", que não estava prevista inicialmente, mas é famosa na voz da cantora, e "Sugar in My Bowl".
Foram 12 músicas no total, incluindo duas voltas ao palco para bis. Aos 64 anos, Simone não demonstrou sinais de cansaço. Conversou com o público, mas o máximo que fez para animar a platéia foi levantar os braços, mostrando o ritmo de algumas canções.
Como no show do Bourbon Street, ela fez uma homenagem ao que chamou de "nossos heróis mortos".
Primeiro reverenciou Bob Marley, "o homem que criou seu próprio estilo de penteado, que hoje em dia está em todos os lugares, os dreadlocks", cantando o sucesso "Woman No Cry" acompanhada pelo público.
Em seguida foi a vez de Martin Luther King Jr., o líder negro na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, assassinado na década de 60. "Eles o mataram, mataram todos os nossos líderes lá", disse, antes de começar a cantar "King of Love".
Foi acompanhada de palmas durante a interpretação da animada "Mississippi".
Simone não exibiu a mesma voz grave a que estão acostumados aqueles que ouvem seus discos. Isso, no entanto, não pareceu incomodar a platéia que cantou junto e aplaudiu todas as canções.
Constrangimento
Na música prevista para acabar o show, aconteceu o único momento de constrangimento. Simone pediu a todos para se levantarem e cantarem com ela "We Shall Overcome", uma espécie de hino ligado a Luther King.
Muitos ficaram em pé, mas raríssimos cantaram. "Vocês não conhecem essa música? Estou muito surpresa", disse Simone, com voz rouca, antes de se sentar novamente ao piano e continuar a interpretar a canção.
O público tentou reverter a situação com muitos aplausos, que continuaram com a retirada da cantora do palco.
Simone e os músicos voltaram após poucos minutos para o primeiro bis da tarde. Atacaram com um impressionante interpretação de "Pirate Jenny", da ópera "Mahagonny Songspiel", de Bertolt Brecht e Kurt Weil.
No segundo bis, arrancado pela platéia à custa de muitos aplausos, às 5h17, ela cantou "Just Say I Love Him".
O público levado pela cantora ao parque não bateu nenhum recorde -Ray Charles, por exemplo, reuniu 150 mil no local-, mas foi considerado bom pelos organizadores, que tinham uma expectativa de que cerca de 50 mil pessoas comparecessem.
Sua última volta ao palco não teve música. De chapéu panamá na cabeça, ela foi apenas dizer "amo todos vocês também", agradecer pela compra de seus discos e ir embora, aplaudidíssima.
(PATRICIA DECIA)




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