|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SHOW
Cantora e pianista norte-americana fez sua última apresentação em São Paulo ao ar livre na tarde de ontem
Nina Simone leva 35 mil ao Ibirapuera
da Reportagem Local
Cerca de 35 mil pessoas, segundo
a PM, foram ao parque Ibirapuera
na tarde de ontem para assistir à
última apresentação da cantora e
pianista norte-americana Nina Simone em São Paulo.
Ao contrário do normal, em espetáculos no parque, Simone quis
cantar à tarde. Ela subiu ao palco
da praça da Paz às 16h03, com apenas três minutos de atraso, vestindo uma túnica branca com detalhes em dourado.
Sentou-se ao piano preto, posicionado no lado esquerdo do palco, e começou o show com "God
God God", acompanhada pelos
músicos Al Schakman, na guitarra, Paul Robinson, na bateria, e
Leopold Flemming, na percussão.
Seguiu com os clássicos "I Love
You Porgy", de Gershwin, e "My
Way" em versão quase afro. O repertório contou ainda com "Ne
Me Quitte Pas", que não estava
prevista inicialmente, mas é famosa na voz da cantora, e "Sugar in
My Bowl".
Foram 12 músicas no total, incluindo duas voltas ao palco para
bis. Aos 64 anos, Simone não demonstrou sinais de cansaço. Conversou com o público, mas o máximo que fez para animar a platéia
foi levantar os braços, mostrando
o ritmo de algumas canções.
Como no show do Bourbon
Street, ela fez uma homenagem ao
que chamou de "nossos heróis
mortos".
Primeiro reverenciou Bob Marley, "o homem que criou seu próprio estilo de penteado, que hoje
em dia está em todos os lugares, os
dreadlocks", cantando o sucesso
"Woman No Cry" acompanhada
pelo público.
Em seguida foi a vez de Martin
Luther King Jr., o líder negro na
luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, assassinado na década
de 60. "Eles o mataram, mataram
todos os nossos líderes lá", disse,
antes de começar a cantar "King
of Love".
Foi acompanhada de palmas durante a interpretação da animada
"Mississippi".
Simone não exibiu a mesma voz
grave a que estão acostumados
aqueles que ouvem seus discos. Isso, no entanto, não pareceu incomodar a platéia que cantou junto e
aplaudiu todas as canções.
Constrangimento
Na música prevista para acabar o
show, aconteceu o único momento de constrangimento. Simone
pediu a todos para se levantarem e
cantarem com ela "We Shall
Overcome", uma espécie de hino
ligado a Luther King.
Muitos ficaram em pé, mas raríssimos cantaram. "Vocês não conhecem essa música? Estou muito
surpresa", disse Simone, com voz
rouca, antes de se sentar novamente ao piano e continuar a interpretar a canção.
O público tentou reverter a situação com muitos aplausos, que
continuaram com a retirada da
cantora do palco.
Simone e os músicos voltaram
após poucos minutos para o primeiro bis da tarde. Atacaram com
um impressionante interpretação
de "Pirate Jenny", da ópera "Mahagonny Songspiel", de Bertolt
Brecht e Kurt Weil.
No segundo bis, arrancado pela
platéia à custa de muitos aplausos,
às 5h17, ela cantou "Just Say I Love Him".
O público levado pela cantora ao
parque não bateu nenhum recorde
-Ray Charles, por exemplo, reuniu 150 mil no local-, mas foi
considerado bom pelos organizadores, que tinham uma expectativa de que cerca de 50 mil pessoas
comparecessem.
Sua última volta ao palco não teve música. De chapéu panamá na
cabeça, ela foi apenas dizer "amo
todos vocês também", agradecer
pela compra de seus discos e ir embora, aplaudidíssima.
(PATRICIA DECIA)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|