São Paulo, segunda, 28 de julho de 1997.



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POLÊMICA
Dubladores discutem greve

free-lance para a Folha

Os dubladores de São Paulo se reúnem hoje, às 19h30, no 8º andar da Câmara Municipal para decidir o que será feito para que a classe atinja suas reivindicações -a possibilidade de uma paralisação não está descartada.
Por reivindicações deve-se entender o trabalho com registro na carteira profissional, o que não ocorre em São Paulo, segundo o dublador Gilberto Barone.
Barone, 55 anos, 30 de profissão, assumiu há seis meses a liderança da categoria dos dubladores, assumindo a voz do grupo frente ao Sindicato de Atores e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado de São Paulo, o Sated.
"Em São Paulo, nenhum dublador é registrado em carteira. Mas os patrões dizem o seguinte: para registrarmos vocês, teremos que pagar menos, porque teremos que descontar INSS, fundo de garantia, 13º...", diz o ator.
Atualmente, eles ganham R$ 22,40 por hora de trabalho. "Mas o dublador trabalha duas horas em um dia, depois não trabalha... é instável."
Barone explica que existe uma unidade para quantificar um filme chamada anel, que corresponde a 20 segundos de filme. A cada 20 anéis, os dubladores ganham uma hora de trabalho.
"Atualmente, se você faz 22 anéis, por exemplo, você ganha mais meia hora, mesmo não tendo atingido 30 anéis."
Uma das mudanças que os empresários querem estabelecer é que se extinga o pagamento em hora e anel. "Eles querem ou um ou outro, e estão oferecendo R$ 1 por anel."
O líder da classe contabiliza que existem cerca de 130 dubladores atuando em São Paulo. No Rio, esse número aponta para 180 profissionais.
Fora dessas cidades, porém, Barole diz que não há outros dubladores.
Para dar um parâmetro de quanto é reconhecido o trabalho dos dubladores no país, Barole dá o exemplo de dublagem de um longa-metragem norte-americano.
"No Brasil, um filme desses custa de R$ 4 a 5 mil para que seja feita a dublagem. Na Itália, gasta-se cerca de U$ 25 mil para dublar esse mesmo filme", diz o dublador, que é ator formado como a maioria dos companheiros de profissão.
As conversações sobre o registro começaram em abril. "Como as negociações eram nacionais, nós começamos a nos reunir no Rio de Janeiro. Só que os empresários paulistas nunca apareceram nessas reuniões. Eles fingiam que não sabiam."
"Os encontros no Rio ficaram em um impasse, devido à ausência dos paulistas. O Rio tem medo de fazer um acordo e dar um determinado aumento e São Paulo não dar esse aumento, oferecendo um preço mais baixo para os distribuidores e atraindo todo o trabalho para cá. E os empresários dizem que não vão fechar acordo algum sem saber o preço dos cariocas, com medo de que o contrário aconteça."




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