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ANIMA MUNDI
Cineasta vencedor do Oscar tem bate-papo com o público
"Herói" russo pinta com dedos e fala hoje em SP
Vânia Delpolo/Folha Imagem
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O cineasta russo Aleksandr Petrov, que ganhou o Oscar de animação e está no Brasil para participar do Anima Mundi 2000 |
IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um grande orgulho nacional
russo fala hoje com o público brasileiro. Vencedor do Oscar 2000
na categoria curta de animação
com "O Velho e o Mar", baseado
no conto de Hemingway, Aleksandr Petrov tem bate-papo com
a platéia hoje na programação do
8º Festival Internacional de Animação do Brasil, o Anima Mundi
2000 (veja quadro ao lado).
O filme é uma co-produção
com canadenses e japoneses.
Residente em Iaroslavl (250 km
a nordeste de Moscou), Petrov
tem a literatura como fonte constante de inspiração -antes de
Hemingway, levou às telas contos
de Andrei Platonov e Fiódor Dostoiévski.
Com formação de artista plástico, destaca-se por uma meticulosa técnica, na qual cada fonograma é uma pintura feita com dedos
e pincéis sobre placa de vidro.
Leia abaixo trechos da entrevista exclusiva que deu à Folha.
Folha - Os temas de seus filmes
costumam vir da literatura. Por
quê?
Alexandr Petrov - É difícil dizer.
Eu prefiro confiar o roteiro a um
tema já escrito -como um conto.
Talvez seja por isso que eu escolha
a literatura, pois posso ver, no papel, a história que desejo levar ao
cinema.
Folha - Você escreve os roteiros
de seus filmes?
Petrov - Normalmente não, o
que faço é desenhar o "story
board". Para mim, isso é mais
simples, já que eu sou um pintor.
Folha - De onde veio a idéia de "O
Velho e o Mar"? Depois de trabalhar com textos de autores russos,
por que escolheu um americano?
Petrov - Foi minha idéia. Não escolhi os temas por serem russos
ou americanos; gosto deste conto
e resolvi trabalhar com ele. Eu
queria fazer essa história há muito
tempo. Cheguei a encomendar o
roteiro do filme, mas não o recebi.
Coincidentemente, o que aconteceu foi que uma conhecida minha
escreveu o roteiro e o levou ao Canadá -o que não foi idéia minha,
mas acabou vindo ao encontro de
minha iniciativa e meu desejo de
fazer o filme.
Folha - Hemingway é conhecido
na Rússia?
Petrov - Naturalmente. Ele foi
muito popular nos anos 60. Era
possível ver, por toda parte, penduradas pela juventude, retratos
dele, principalmente nas casas.
Nas escolas não, mas nos lares esse escritor era muito amado.
Folha - Foi uma surpresa ganhar
o Oscar?
Petrov - Foi a terceira indicação,
de modo que não foi uma surpresa. Eu naturalmente esperava este
prêmio, fui a Los Angeles nas três
vezes e não queria sair novamente
sem o prêmio.
Folha - O Oscar é importante na
Rússia?
Petrov - Sim, eu virei uma espécie de herói depois de receber o
prêmio. O país inteiro ficou sabendo. Nos jornais e na televisão,
se falou muito do "Oscar russo".
Lá todos acham que esse filme é
mais russo do que canadense ou
japonês, já que o diretor é russo e
o prêmio foi para a Rússia. Foi
uma vitória russa.
Folha - Onde você fez o filme?
Petrov - No Canadá. Eu não escolhi o país, fiz o filme a convite
de meus amigos. Foi meu primeiro trabalho com países estrangeiros.
Folha - Você não teria melhores
condições de trabalho se emigrasse para os Estados Unidos ou para o
Reino Unido?
Petrov - Nunca pensei em emigrar. Amo minha pátria, nasci lá e
desejo lá morrer.
Folha - Há dinheiro para o cinema
e para as artes em geral na Rússia?
Petrov - Muito pouco. Pouquíssimas pessoas podem fazer filmes
com roteiro próprio, idéia própria, enfim, filme de autor. Fazem-se mais filmes sob encomenda. A situação não é simples, mas
se trabalha. Se há possibilidades,
se há vontade, talvez o dinheiro
não seja o mais importante para
conseguir fazer um filme.
Folha - Como é a distribuição de
filmes na Rússia? Os americanos
dominaram tudo?
Petrov - O problema é grande. O
mercado cinematográfico diminuiu, os filmes russos cessaram de
ser feitos, e os filmes americanos
tomaram os cinemas e televisões.
Mas o público russo gosta de filmes russos.
Folha - O que lhe interessa no cinema ocidental?
Petrov - Nada em particular.
Gosto de trabalhos que tragam
novidades, que mostrem novas
visões, novas formas.
Folha - Por que o sr. escolheu a
técnica de pintura de dedos e pincéis sobre uma placa de vidro?
Petrov - Antes de tudo, sou um
pintor. Trabalhei muito como
pintor para outros diretores. Para
mim, é a chance de fazer duas coisas que amo: filmar e pintar.
Folha - Você fez seu último filme
para ser exibido em IMAX, mas aqui
não temos esse projetor. O público
brasileiro vai sair prejudicado?
Petrov - A idéia de fazer o filme
para projetor IMAX foi dos produtores japoneses e canadenses.
Eu era contra, mas, depois dos
primeiros testes, achei interessante e parei de ter medo da tela grande. Mas a cópia em 35 milímetros
a ser exibida aqui é boa, e o filme
continua o mesmo.
Folha - O que você espera da conversa com o público brasileiro?
Petrov - Não sei. Não estou habituado a esse tipo de conversa. Enfim, como se trata de outro país, é
sempre interessante.
Folha - Você conhece algo do cinema brasileiro?
Petrov - Infelizmente não. Espero entrar em contato com a animação brasileira. Sei que há coisas
novas e interessantes.
Folha - Quem o influenciou mais:
pintores ou diretores?
Petrov - Pintores, diretores, operadores, fotógrafos, escritores...
Muita gente. Como pintor, sinto-me muito influenciado por Rembrandt e pelos franceses. No cinema, amo Tarkosvki, cinema francês, Bresson, neo-realismo italiano...
Folha - Por que Rembrandt?
Petrov - É difícil dizer em poucas
palavras... Gosto de sua humanidade, de seu sentido extraordinário da alma humana e de sua capacidade de retratar a tragédia e a
alegria humana. Nesse sentido, é
um artista único, e tentei aprender alguma coisa com ele.
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