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HISTÓRIA/ESTADOS UNIDOS
ESCRAVIDÃO
Estudo clássico do historiador David Brion Davis chega ao Brasil 35 anos depois de ser escrito
Debate abolicionista ilumina drama racial da atualidade
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
O preconceito racial nos EUA
não tem origem apenas no período colonial, mas possui suas raízes em interpretações do legado
da Antiguidade clássica à Europa
do período dos Descobrimentos.
Para o historiador americano
David Brion Davis, 74, autor do
clássico "O Problema da Escravidão na Cultura Ocidental" (1966),
a recuperação do debate entre
abolicionistas e defensores da escravidão no século 18 permite
compreender o racismo que persiste na sociedade dos EUA.
Estudioso da escravidão, da história da imagem do negro e da
questão racial, Brion Davis tem
seu livro mais famoso lançado pela primeira vez no Brasil agora, 35
anos depois da edição em inglês.
O livro ganhou o Prêmio Pulitzer em 1967 e tem como tema
principal o contexto que tornou
propício o debate abolicionista na
França, Inglaterra e nos EUA.
Atualmente lecionando na Universidade de Yale, Brion Davis
também está finalizando um livro
sobre a persistência de valores religiosos na história do país.
Leia abaixo a entrevista que o
pesquisador deu à Folha, por telefone, de Nova York.
Folha - O que o atraiu primeiro
para o tema da escravidão?
David Brion Davis - O fato de ela
ter durado tanto tempo nas Américas enquanto o sentimento abolicionista foi muito pontual e específico de um período. A razão
pela qual demorou tanto para que
a submissão dos negros causasse
revolta é uma demonstração de
que ela tinha respaldo cultural, religioso e filosófico. Quis saber
porque praticamente não houve
condenação moral à escravidão
até o século 17 e quase nenhum
passo pela abolição até o 18.
Folha - O fato de o senhor ter ganho o Pulitzer nos anos 60 se deve a
um contexto histórico específico?
Brion Davis - Sim, era uma época
em que os movimentos de direitos humanos jogavam luz à questão racial. O tema da escravidão
nos EUA foi um tabu por longo
tempo. Havia uma repressão silenciosa, especialmente depois da
Primeira Guerra. Depois da Segunda Guerra, se percebeu a importância da escravidão para a
construção da economia e da sociedade. Meu livro faz parte dessa
recuperação do tema, no fim dos
anos 50 e nos 60.
Folha - Como o senhor recebeu a
notícia do Pulitzer, em 1967?
Brion Davis - Eu tinha acabado
de chegar à Índia, onde fui dar aulas. Fui interrompido no meio de
uma delas por uma repórter da
TV indiana. Mas ela dizia que eu
havia ganhado o Nobel. Eu pensei: "Não pode ser o Nobel".
Folha - O senhor diz que ainda há
lacunas sobre a escravidão. O que
falta ser estudado?
Brion Davis - Uma das chaves para saber como o preconceito subsistiu é estudar melhor a conexão
entre escravidão e a estruturação
do trabalho depois da abolição.
Folha - Faltam trabalhos como o
seu, que é uma análise mais ampla
e comparativa da questão?
Brion Davis - No caso da escravidão e da questão racial, precisamos de mais estudos comparativos e internacionais sobre a história do racismo. Também ajudaria
explicar melhor como cada sociedade européia se relacionava com
a escravidão. A diferença entre a
visão dos povos mediterrâneos e a
dos do norte da Europa é muito
grande e está na raiz da formação
social do Novo Mundo.
Folha - Acha que hoje a compreensão das raízes do preconceito
racial é melhor nos EUA?
Brion Davis - Sou otimista, nós tivemos um declínio significativo
do racismo entre os anos 50 e hoje
e também do anti-semitismo. Para alguém da minha idade, é assombroso ver como as coisas mudaram nas últimas décadas.
O PROBLEMA DA ESCRAVIDÃO NA
CULTURA OCIDENTAL - De: David Brion
Davis. Editora: Civilização Brasileira (tel.
0/xx/21/5585-2000). Tradução: Wanda
Caldeira Brant. R$ 52 (545 págs.).
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