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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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O game no palco

Evelson de Freitas - 31.jul.01/Folha Imagem
Jovens assistem a telão com imagens de videogame, durante feira de informática Fenasoft, no Anhembi, em São Paulo



Jogos eletrônicos ganham status de produto cultural, têm mostra em SP e já alcançam a indústria do cinema


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Game é brinquedo, é desenho, é cinema, é arte, é o quê? Sem a resposta na ponta da língua ainda, o Instituto Itaú Cultural abre nesta quarta-feira a exposição "Game o Quê?", com 42 anos de história dos jogos eletrônicos e, de cara, uma primeira conclusão: game é linguagem.
"O público em geral ainda tem algumas idéias preconcebidas sobre o videogame. Ou ele é uma tela toda coloridinha com personagens que ficam pulando ou é uma coisa extremamente violenta", afirma Marcos Cuzziol, 41, diretor do centro de mídias Itaulab e curador da mostra.
"Curador não!", diz o engenheiro mecânico, cuja intenção é "mostrar que existe uma linguagem por trás, programadores trabalhando no comportamento dos personagens, modeladores que constróem visualmente às vezes mundos que nem existem, gente que pensa o roteiro".
Inédita no Brasil, a iniciativa vem sendo cada vez mais repetida em outros lugares do mundo, como na galeria londrina Barbican, que montou a exposição "Game On" há um ano, e o MoMa de San Francisco, que dedicou atenção recente ao gênero. Os exemplos se estendem para o jornal "The New York Times" e a revista francesa de cinema "Cahiers du Cinema", que realizou em 2002 uma inusitada edição apenas com resenhas de novos games.
Não por coincidência, o professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Henry Jenkins compara a fase atual da evolução dos videogames -que já há tempos caminham para um realismo próximo do dos filmes- à do cinema mudo nos anos 20, "começo de uma linguagem que ficaria madura décadas depois".
"Naquela época o cinema era a pantomima, o pastelão, não havia construído o sistema de regras que foi definir sua linguagem depois. É isso o que está acontecendo com o game", diz Cuzziol.
De um pequeno laboratório experimental no mesmo MIT, em 1961, onde foi desenvolvido o primeiro game da história, aos megagrupos que hoje controlam a produção de jogos multimilionários, já é possível, hoje, usar a palavra indústria. "Enter the Matrix", lançado pela Infogames junto com a chegada de "Matrix Reloaded" aos cinemas, em maio, custou a cifra recorde de US$ 20 milhões para ser feito.
Produzido em paralelo ao filme, o game contou com praticamente toda a equipe de "Matrix", do roteiro e direção dos irmãos Wachowski aos atores. "A indústria de games hoje já ultrapassou a indústria cinematográfica", afirma Cuzziol, sobre um setor que, em 2002, acumulou mais de US$ 10 bilhões só em vendas de consoles.
Não é exagero dizer que, hoje, o lançamento do próximo "Final Fantasy" pode gerar mais expectativa entre a molecada do que o último capítulo da saga de "O Senhor dos Anéis" no cinema. Criada no Japão na década de 80, a franquia rendeu recentemente um longa, consequência do alto nível das animações espalhadas pelo jogo, os "cinemáticos".
Caminho semelhante vêm tomando os blockbusters dos games "Starcraft" e "Diablo", da Blizzard, que acabaram produzindo rentáveis DVDs só com as sobras dos ditos cinemáticos.
No mercado de língua inglesa, além da crescente aposta das adaptações de filmes para o mundo dos videogames (e vice-versa), nomes reconhecidos têm emprestado seu prestígio para o desenvolvimento de boas histórias. É o caso do escritor de horror Clive Barker ("Undying") e do best-seller de livros de espionagem Tom Clancy, consultor da série de jogos "Metal Gear Solid".
E se a parceria vier acrescida de uma dose de nostalgia, melhor ainda: "Passamos a adolescência jogando "Mortal Kombat'", afirma Chris Kohls, baterista da banda americana Adema, que emprestou uma de suas músicas ("Immortal") para a trilha de uma nova versão do jogo. "Agora vamos fazer para o [jogo de futebol americano] "Madden". Não dá para dizer não, né?", completa ele, referindo-se a um dos sucessos da história dos games nos EUA.


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