São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

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Crítica/"Mirando a Estrela"

Eta Carinae alia regionalismo a batida eletrônica em álbum

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

EX-LÍDER do Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis, Dirceu Melo, 30, montou uma nova banda, Eta Carinae, e agora lança "Mirando a Estrela", disco de estréia com patrocínio da Lei Rouanet -após debutar no cenário pela Sony em 1995 e ser dispensado pela mesma tempos depois.
Em questão de uma década, o músico passou de mascote a veterano do mangue beat, a cena que colocou Pernambuco no centro do pop nacional na década passada. Segundo ele, trata-se de progressão natural, seja no aspecto artístico ou no aspecto comercial.
Se no grupo anterior de Melo o baião e a temática do sertão vinham distorcidos sob camadas de pesados riffs de guitarras à Led Zeppelin, agora os elementos regionais vêm envoltos por batidas eletrônicas, mas com letras menos épicas.
"O Eta Carinae surgiu de uma vontade de me atualizar com o que rola no mundo, de soar universal", diz Melo, que teve a idéia quando tocou guitarra na banda de Naná Vasconcelos na turnê do álbum "Minha Lôa" (2002).

Gerações
Ao mesmo tempo em que olha para o futuro e para o mercado europeu, "que se interessa muito por esse som de fusão", Melo se vê à frente de questões parecidas com as dos tempos de Jorge Cabeleira. Apesar de então se ver na mesma baciada dos cabeças Chico Science e Mundo Livre S/A, Melo e sua banda eram mais novos e havia um certo conflito de gerações.
"Também fomos muito associados a bandas mais pesadas de outras regiões que faziam misturas, como Raimundos." Hoje, com o Eta Carinae, a questão da geração também pesa. "De uns tempos para cá, começaram a surgir no Recife bandas que renegam a estética do mangue, que cantam em inglês. Eu até curto, mas acho um retrocesso", afirma Melo.
"Atualmente, poucos mantém essa estética, como nós, o Mombojó e o DJ Dolores. Mas isso é uma coisa de ciclo; não tenho dúvidas de que vai ter um novo boom entre a gurizada."
Ainda que em alguns momentos a fusão promovida pelo Eta não soe particularmente fresca, ela vem bem lapidada, em grande parte pelo vocal da atriz e cantora Karina Falcão -Melo fica com a segunda voz, dedicando-se mais à guitarra.
Conta a favor também o fato de que os elementos regionais não venham como fator "étnico", símbolo exotismo, mas integrados às discretas bases eletrônicas. "Noite Seca", por exemplo, tem samba e drum'n'bass; "Gravidade" é um dub com sotaque do Recife e "Loa do Mar" põe baião e xote na pista.
Prestes a fechar acordo para distribuição nacional do CD -que atualmente pode ser encomendado pelo e-mail groovinproducoes@yahoo.com.br, o grupo disponibiliza suas músicas nos sites www.reciferock.com.br e www.tramavirtual.com.br.


MIRANDO A ESTRELA    
Artista: Eta Carinae
Lançamento: independente
Quanto: R$ 15


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