São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2011

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Chaplin vai ao museu

Em outubro, Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, abriga exposição sobre o ator e diretor que transformou o cinema mudo combinando riso com melancolia

Divulgação Instituto Tomie Ohtake
Charlie Chaplin em "Sobre rodas" (1916), curta do início da carreira

GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

Um chapéu, um par de sapatos pretos, um bigode e uma bengala criaram um ícone. A partir da primeira semana de outubro, o Instituto Tomie Ohtake consagra uma exposição a Charles Chaplin exibindo mais de 200 documentos, imagens e vídeos em torno de sua figura. A mostra, concebida há alguns anos pelo curador francês Sam Stourdzé, rodou a Europa e foi exibida no México e nos Estados Unidos antes de desembarcar por aqui.
Graças à proximidade com a família de Chaplin, Stourdzé foi um dos primeiros pesquisadores convidados a explorar o acervo dos documentos do ator e cineasta.
Passou quase quatro anos imerso nas cerca de 10 mil imagens. E é deste "baú" chapliniano que saíram 80% da exposição --outros 20% vieram de coleções privadas.
No conjunto, estão filmogramas, fotos, desenhos e cartazes de filmes, formando um todo iconográfico que atravessa a vida de Chaplin (1889-1977) e suas facetas de ator, produtor, comediante, dançarino e roteirista. "A cada nova exibição vão sendo acrescentados novos elementos", disse o curador à Folha, por telefone, de Lausanne (Suíça), onde hoje dirige o Musée de L'Elysée, um dos importantes centros de fotografia da Europa.
"Incluímos principalmente cartazes de filmes impressos em diferentes países do mundo. Acho que ainda há muito a ser encontrado." Segundo ele, a exposição nasce da tentativa de, via Chaplin, contar a história da "revolução" que representou a passagem do cinema mudo ao cinema falado e relembrar a situação política do período que vai da Primeira Guerra à ascensão do nazismo.
"Chaplin foi um dos raríssimos cineastas a falar de Hitler no calor do momento. As pessoas tendem a esquecer que 'O Grande Ditador' começa a ser rodado em 1938", ressalta.
Para Stourdzé, um dos desafios centrais do trabalho foi o de transformar um registro primordialmente audiovisual em uma exposição coerente, combinando diferentes suportes de exibição.
"Como levar o cinema para o museu? Esse é um campo relativamente recente de investigação para a curadoria. Dez anos atrás, era impossível fixar uma tela na parede como se fosse um quadro. A tecnologia tornou isso viável, mas é preciso criar um diálogo entre o cinema e as imagens fixas que faça sentido e conte uma história."

MÍMICO E DIRETOR
Nascido em Londres, em 1889, o comediante trabalhou no teatro de variedades como mímico até sua ida para os Estados Unidos, em 1913. Ali, fez carreira, montou seu próprio estúdio e acompanhou de perto a crise de 1929 até ser exilado na Suíça em 1952, acusado se ser "simpatizante do comunismo" em tempos de Guerra Fria.
A máquina que ele havia retratado tão bem no filme "Tempos Modernos" (1936) não podia parar. Chaplin é uma figura difícil de abordar, especialmente porque se confunde com o personagem que criou, Carlitos, o vagabundo. Talvez por isso causem impacto as imagens do homem longe do traje que o celebrizou --há algumas delas na mostra. Carlitos é o resultado de um processo de maturação. Em sua "primeira versão", o personagem era apenas trapalhão de comédia pastelão. Aos poucos foi ganhando os contornos do melancólico solitário que possui a dignidade de um cavalheiro, mas passa fome e usa sapatos esfarrapados visivelmente maiores que seu número.
Ele se tornaria o protagonista das grandes produções de fôlego rodadas por Chaplin nos anos 30 --"Tempos Modernos" e "O Grande Ditador", já mencionados, além de "Luzes da Cidade" (1931), seu grande filme de amor. Mas o impacto de Chaplin em sua época não ficou restrito ao cinema. Impressionados com a popularidade de sua figura, artistas dos anos 1920 e 1930 viram, em seus movimentos líricos e mecânicos, uma encarnação da modernidade.
Foi graças ao poeta Guillaume Apollinaire que uma boa parte do meio artístico de vanguarda entrou em contato com o cinema de Chaplin. Impactado, o artista francês Fernand Léger criou quatro gravuras "Carlitos Cubista", um dos destaques da exposição em tempos pós-modernos.

A repórter Gabriela Longman comenta o "Circo Invisível", criado pela filha de Chaplin
folha.com/il950425



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