São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2011

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CRÍTICA COMÉDIA

Tom histriônico dilui sutileza de espetáculo dirigido por Falabella

Montagem dificulta adesão da plateia ao unir comédia rasgada ao humor fino de "A Escola do Escândalo"


OS MÉRITOS DE FALABELLA PELA REALIZAÇÃO SÃO INDISCUTÍVEIS, MAS NÃO ISENTAM O ESPETÁCULO DE CONTRADIÇÕES. ELAS REPERCUTEM NUMA ADESÃO PARCIAL DA PLATEIA AO PROJETO


LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Comédia de costumes ou farsa? "A Escola do Escândalo", adaptação de Miguel Falabella de famosa peça do autor irlandês do século 18 Richard Sheridan (1751-1816), é uma produção luxuosa que oscila entre os dois gêneros.
O texto, que estreou em Londres em 1777, foi o maior sucesso de público e crítica do dramaturgo, que escreveu além dela outras três peças relevantes, antes de se tornar um político de influência na Inglaterra da época.
A peça cristaliza no teatro inglês a chamada "comedy of manners", que, desde o século anterior, já vinha ensaiando a sátira dos costumes das classes mais abastadas na base de tiradas ferinas e do humor fino.
A montagem de Falabella tem o mérito de resgatar essa criação antológica, não só a traduzindo como realizando a trabalhosa operação de reduzir os cinco atos a dois e compatibilizar os personagens ao elenco disponível.
Sua preocupação de transformar um "clássico da comédia" em "melhor diversão" reflete-se numa direção de atores que aponta para um registro farsesco, fundado nos exageros.
Não que a história de uma central de boatos maledicentes, abrigada no seio de uma família burguesa em plena revolução industrial, não sugira o ridículo de falsas virtudes morais.
No entanto, uma das características evidentes do texto da peça é a sustentação do cômico mais pelas falas, na troca rápida de insinuações, do que pelo histrionismo dos comediantes.

CACO GROSSEIRO
Esse problema se revela mais agudo no desempenho do bom ator Bruno Garcia como o canalha José Fachada.
Ele se perde buscando, na base de gagues grosseiras, arrancar o riso do público. Os protagonistas Tonico Pereira e Maria Padilha, como o comendador Pedro Atiça e sua mulher, Rosália, são mais comedidos, ainda que sobre Pereira paire a sombra do personagem que o consagrou em seriado televisivo.
No geral, o elenco do espetáculo se equilibra entre a piada fácil do caco grosseiro e a fluência do texto, que demanda um ritmo mais ligeiro e menos estancado pelas marcas de atuação.
Em contraste com esse rebaixamento das sutilezas de Sheridan, a encenação tem requintes como três pequenos palcos giratórios, que permitem jogos refinados com a variação das cenas.
Os méritos de Miguel Falabella pela realização são indiscutíveis, mas não isentam o espetáculo dessas contradições. Elas repercutem numa adesão parcial da plateia ao projeto.
Entre a comédia rasgada à brasileira, que por vezes é sugerida, e os tons mais amenos dos diálogos, de um típico humor britânico, o espectador hesita.

A ESCOLA DO ESCÂNDALO
QUANDO sex., às 21h30; sáb., às 21h; dom., às 18h; até 18/9
ONDE teatro Raul Cortez (r. Dr. Plínio Barreto, 285; tel. 0/xx/11/3254-1631)
QUANTO R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular


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