São Paulo, Quarta-feira, 28 de Julho de 1999
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ANÁLISE
Texto faz rir do horror

da Reportagem Local

Mark Ravenhill não se quer autor político. Mas, com seu diploma em drama, seus anos de "gerência literária" de autores, ele é o mais consciente e articulado do trio da nova dramaturgia inglesa -com Patrick Marber e Martin McDonagh. É também o de texto mais hilariante.
Em "Shopping and Fucking", visto na montagem original do Royal Court, dois anos atrás, o que o protagonista, Mark, mais gosta de fazer é contar histórias. Não quer a quebra do discurso instituído, da linearidade: quer salvar alguma história, nem que sejam histórias, muitas, mas com sua ordem mínima.
Na trama da peça, propriamente, não há história muito definida. São quatro jovens perdidos num mundo em que o que vale é comprar e vender. É aí que o autor se revela o mais direto na sua crítica social e política.
Mas trata-se de um niilista, que não oferece alternativas: não há saída do mundo de "Shopping and Fucking", além do amor desesperado que leva à morte -e a morte fetichizada como mercadoria, fantasia de S&M.
Com seu realismo doloroso, à David Mamet, embora não se deva esperar o mesmo apuro formal, retrata uma juventude londrina em seu cotidiano de cômicos horrores, sem dar atenção a nada, com as vidas já meio perdidas, em meio a vícios que vão do sexo pesado à TV.
De cenário mínimo, um telão com sinais publicitários em neon, o que marcou a montagem foram as atuações de Antony Riding como Mark e de Pearce Quigley como Bobbie, seu ex-amante tornado traficante desastrado. Nelas, o melhor de Ravenhill: a reunião da tragédia cotidiana com o humor mais histérico. (NS)


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