São Paulo, sexta, 28 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O comportamento sexual dos cosmonautas

CARLOS HEITOR CONY
do Conselho Editorial

Nascida pobre, aos 12 anos eu já tinha um padrinho rico que me dava balas, presentes e outras satisfações em troca da satisfação que eu lhe dava. Aos 18 anos quis um carro, e o padrinho não podia me pagar esse prazer -ou essa satisfação. Arranjei outro padrinho, que além do carro me deu um apartamento em Nova York. Tornei-me prostituta sindicalizada, com cadastro nos serviços competentes, vacinada contra a blenorragia e contribuinte do Imposto de Renda.
Meu nome sofreu algumas alterações: de Cristina, passei a ser Rasputina, um dos meus padrinhos era um dissidente russo, falava muito num cara que tinha nome parecido com esse. Era então franzina, e o nome me caía bem. Ao completar 21 anos, no apogeu da carreira, o nome foi mudado para Rasputana. Eu era então a puta mais escrachada da cidade.
Foi aí que o governo me convidou, e eu tive de me apresentar em Cabo Canaveral, naquele troço de onde saem os foguetes que chegam à Lua. Um convite do governo não é uma ordem, mas quem desobedece fica mal perante as autoridades. E eu tenho de manter boas relações com todas as autoridades, não só por ser patriota, mas também por ser prostituta.
Fretaram um avião onde couberam 244 putas dos mais variados tamanhos e feitios. Horas depois, fomos despejadas no centro de operações, onde nos informaram da situação.
Mais cedo ou mais tarde seriam realizados vôos demorados pelo espaço, e os cosmonautas precisariam levar uma vida sexual normal. Havia alguns problemas técnicos a resolver. Na ausência da gravidade, por exemplo, a ereção era tão absoluta que ficava difícil a penetração, e os espermatozóides teriam dificuldade em cumprir o percurso natural -eram detalhes muito especializados para interessarem a uma prostituta bem-sucedida.
Fomos submetidas a complicados testes, que incluíam desde a capacidade de suportar altas pressões atmosféricas até a capacidade de suportar porrada de algum deles chegado a esse tipo de perversão. A escolha seria rigorosa, pois somente uma de nós faria parte da tripulação do primeiro vôo, que demoraria 36 meses. A eleita teria de satisfazer oito homens.
Das 244 putas que chegaram a Cabo Canaveral, somente 15 passaram nos testes, e eu estava entre essas. Seríamos experimentadas pelos oito cosmonautas, e uma votação indicaria a preferida.
A preferida foi Monica Lewinsky. Não que ela estivesse entre as 15, mas houve uma rebelião entre os cosmonautas. Eles protestaram contra os critérios oficiais, achavam que não seria decente andarem pelo cosmo com uma puta. Curioso é que Jacqueline Kennedy teve um voto. Havia um necrófilo na tripulação, e isso me encheu de pasmo. Cosmonauta necrófilo é difícil de ser contentado numa viagem de 36 meses pelas galáxias.
Explicaram aos rapazes que não podiam mandar Monica Lewinsky por motivos nebulosos, ela poderia ser detonada de terra, e aí a viagem iria literalmente para o espaço. Depois de algumas confusões fui comunicada de que por motivos técnicos a escolhida seria eu mesma, e assim entrei na fase final dos preparativos.
Não sei como dar uma idéia do comportamento sexual dos cosmonautas. Em terra, eles são iguais a qualquer homem, mas dentro de uma nave espacial o negócio é mais complicado. Começa que a trepada não pode ser feita pelos meios normais. Basta esse detalhe para se ver como é complexa a missão que me foi atribuída.
O negócio é feito à base de tubinhos de matéria plástica. Nos momentos determinados pelo Centro Espacial de Houston, eu tenho de tirar o tubinho de matéria plástica vermelha de dentro das calças do cosmonauta cuja luzinha amarela ficar piscando. Cada cosmonauta leva na testa uma luzinha amarela que começa a piscar toda vez que um computador conectado ao pênis dele comece a funcionar.
Depois de apanhar o tubinho vermelho, tenho de fazer uma conexão com outro tubinho vermelho de um pequeno condensador de oito volts, ao qual eu ligarei o tubinho branco que sai de minha vagina. Depois disso, é só girar o botão do condensador, cuja gradação vai de 0 a 110.
A relação assim se consuma. O esperma do cosmonauta não será desperdiçado. No próprio condensador há uma pequena usina movida a energia solar. O esperma do cosmonauta ali depositado será transformado em pastilhas de PR3 -uma substância que substitui o café. A bordo, ninguém tomará o café tradicional. As pastilhas farão o mesmo efeito, embora não tenham gosto nenhum, pois numa nave espacial, desde o esperma até o peru à Califórnia, tudo tem o mesmo gosto.
Meu maior cuidado é para não trocar os tubinhos. Se em vez do tubinho vermelho eu tirar das calças do cosmonauta o tubinho azul e ligá-lo ao condensador, ele será operado de amígdalas. Se não desconectar a tempo, e a luzinha amarela continuar piscando, a coisa fica mais séria, e ele será submetido a uma operação de próstata.
Levarei na mochila uns números atrasados de revistas de sacanagem. Um dos rapazes pediu uma foto da Monica Lewinsky para melhor se entusiasmar.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.