|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O comportamento sexual dos cosmonautas
CARLOS HEITOR CONY
do Conselho Editorial
Nascida pobre, aos 12 anos eu
já tinha um padrinho rico que
me dava balas, presentes e outras satisfações em troca da satisfação que eu lhe dava. Aos
18 anos quis um carro, e o padrinho não podia me pagar esse prazer -ou essa satisfação.
Arranjei outro padrinho, que
além do carro me deu um
apartamento em Nova York.
Tornei-me prostituta sindicalizada, com cadastro nos serviços competentes, vacinada
contra a blenorragia e contribuinte do Imposto de Renda.
Meu nome sofreu algumas
alterações: de Cristina, passei
a ser Rasputina, um dos meus
padrinhos era um dissidente
russo, falava muito num cara
que tinha nome parecido com
esse. Era então franzina, e o
nome me caía bem. Ao completar 21 anos, no apogeu da carreira, o nome foi mudado para
Rasputana. Eu era então a puta mais escrachada da cidade.
Foi aí que o governo me convidou, e eu tive de me apresentar em Cabo Canaveral, naquele troço de onde saem os foguetes que chegam à Lua. Um
convite do governo não é uma
ordem, mas quem desobedece
fica mal perante as autoridades. E eu tenho de manter boas
relações com todas as autoridades, não só por ser patriota,
mas também por ser prostituta.
Fretaram um avião onde
couberam 244 putas dos mais
variados tamanhos e feitios.
Horas depois, fomos despejadas no centro de operações,
onde nos informaram da situação.
Mais cedo ou mais tarde seriam realizados vôos demorados pelo espaço, e os cosmonautas precisariam levar uma
vida sexual normal. Havia alguns problemas técnicos a resolver. Na ausência da gravidade, por exemplo, a ereção
era tão absoluta que ficava difícil a penetração, e os espermatozóides teriam dificuldade
em cumprir o percurso natural
-eram detalhes muito especializados para interessarem a
uma prostituta bem-sucedida.
Fomos submetidas a complicados testes, que incluíam desde a capacidade de suportar
altas pressões atmosféricas até
a capacidade de suportar porrada de algum deles chegado a
esse tipo de perversão. A escolha seria rigorosa, pois somente uma de nós faria parte da
tripulação do primeiro vôo,
que demoraria 36 meses. A
eleita teria de satisfazer oito
homens.
Das 244 putas que chegaram
a Cabo Canaveral, somente 15
passaram nos testes, e eu estava entre essas. Seríamos experimentadas pelos oito cosmonautas, e uma votação indicaria a preferida.
A preferida foi Monica Lewinsky. Não que ela estivesse
entre as 15, mas houve uma rebelião entre os cosmonautas.
Eles protestaram contra os critérios oficiais, achavam que
não seria decente andarem pelo cosmo com uma puta. Curioso é que Jacqueline Kennedy teve um voto. Havia um
necrófilo na tripulação, e isso
me encheu de pasmo. Cosmonauta necrófilo é difícil de ser
contentado numa viagem de
36 meses pelas galáxias.
Explicaram aos rapazes que
não podiam mandar Monica
Lewinsky por motivos nebulosos, ela poderia ser detonada
de terra, e aí a viagem iria literalmente para o espaço. Depois
de algumas confusões fui comunicada de que por motivos
técnicos a escolhida seria eu
mesma, e assim entrei na fase
final dos preparativos.
Não sei como dar uma idéia
do comportamento sexual dos
cosmonautas. Em terra, eles
são iguais a qualquer homem,
mas dentro de uma nave espacial o negócio é mais complicado. Começa que a trepada não
pode ser feita pelos meios normais. Basta esse detalhe para
se ver como é complexa a missão que me foi atribuída.
O negócio é feito à base de tubinhos de matéria plástica.
Nos momentos determinados
pelo Centro Espacial de Houston, eu tenho de tirar o tubinho de matéria plástica vermelha de dentro das calças do
cosmonauta cuja luzinha
amarela ficar piscando. Cada
cosmonauta leva na testa uma
luzinha amarela que começa a
piscar toda vez que um computador conectado ao pênis dele
comece a funcionar.
Depois de apanhar o tubinho
vermelho, tenho de fazer uma
conexão com outro tubinho
vermelho de um pequeno condensador de oito volts, ao qual
eu ligarei o tubinho branco
que sai de minha vagina. Depois disso, é só girar o botão do
condensador, cuja gradação
vai de 0 a 110.
A relação assim se consuma.
O esperma do cosmonauta não
será desperdiçado. No próprio
condensador há uma pequena
usina movida a energia solar.
O esperma do cosmonauta ali
depositado será transformado
em pastilhas de PR3 -uma
substância que substitui o café.
A bordo, ninguém tomará o
café tradicional. As pastilhas
farão o mesmo efeito, embora
não tenham gosto nenhum,
pois numa nave espacial, desde
o esperma até o peru à Califórnia, tudo tem o mesmo gosto.
Meu maior cuidado é para
não trocar os tubinhos. Se em
vez do tubinho vermelho eu tirar das calças do cosmonauta
o tubinho azul e ligá-lo ao condensador, ele será operado de
amígdalas. Se não desconectar
a tempo, e a luzinha amarela
continuar piscando, a coisa fica mais séria, e ele será submetido a uma operação de próstata.
Levarei na mochila uns números atrasados de revistas de
sacanagem. Um dos rapazes
pediu uma foto da Monica Lewinsky para melhor se entusiasmar.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|