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ÓPERA
"La Bohème" no Alfa Real tem muitas deficiências
IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha
Em sua primeira incursão operística, o Teatro Alfa Real montou
uma "Bohème" para não-iniciados. A música de Puccini é tão bonita que quem não liga muito para
a qualidade da interpretação pode
até se emocionar.
Já o conhecedor vai encontrar
muitas deficiências no elenco
"vale quanto pesa". Os cantores
foram escolhidos por suas qualidades físicas -e, em alguns casos,
a voz parece ser mero detalhe.
A música foi sacrificada em prol
da cena -e, tendo em vista os resultados do diretor Jorge Takla, o
preço parece alto demais.
Para atrair os jovens, não basta
ambientar a ópera nos dias de hoje. Se a direção for quadrada, se os
figurinos forem todos pouco
atraentes e se a luz não for imaginativa, não adianta nada.
Quando o maior destaque de
uma "Bohème" é o pequeno personagem de Colline -em magnífica atuação de Jeller Felipe- há
certamente algo de errado.
Uma sensação que se avoluma
quando Schaunard (Douglas
Hahn) acaba se destacando mais
que Marcello (o decepcionante
Paulo Szot). Ou quando se vê o papel de Musetta (Gabriela Pace) entregue a uma cantora de bela voz,
mas imatura, cheia de deficiências
técnicas, que canta tudo tão diferente da escrita de Puccini que
nunca se sabe se ela está tomando
liberdades excessivas ou simplesmente errando os tempos.
Fernando Portari, tenor de carreira brilhante, teve na quarta uma
noite para ser esquecida. Começou a ópera vacilante, fez uma
"Che gelida manina" pálida, e jamais chegou a se encontrar.
Seu par romântico, a soprano
Rosana Lamosa, esteve bem superior. Para sua caracterização de
Mimi, a principal personagem da
ópera, ser plenamente satisfatória,
faltou um pouco mais de volume.
Mas os problemas dos cantores
devem ser relevados quando se
pensa na pobre qualidade da jovem Orquestra Experimental de
Repertório, especialista em atravessar o ritmo e desafinar. Para
agravar, o maestro Jamil Maluf resolveu eliminar os contrastes da
partitura de Puccini, regendo tudo
de maneira bastante arrastada.
São Paulo ouviu "La Bohème"
pela última vez em 89, e sabe-se lá
quando vai ter outra chance. Assim, seria mesquinho não recomendar que o público vá assistir
esta montagem. É aconselhável,
contudo esperar a segunda temporada, no Municipal. Talvez, em
novembro, alguns problemas da
estréia estejam resolvidos.
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