São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"A ENFERMEIRA BETTY"

Diretor de "Na Companhia de Homens" aposta na interpretação e explora "cinza" de personagens

Neil Labute critica celebridades em longa

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO

De entrada, um cotidiano banal: homem briga diariamente com a mulher, enquanto a engana com outra. Como prato principal, um assassinato em circunstâncias estranhas. De sobremesa, um enredo genial regado a espetadas ao mundo das celebridades. O cafezinho é servido por Renée Zellweger nesta comédia de Neil Labute.
O diretor americano, 38, fala à Folha sobre um filme diferente de seus anteriores ("Na Companhia de Homens", de 97, e "Seus Amigos, Seus Vizinhos", de 98): "São ossos do ofício. Sempre tento deixar o público perplexo", diz.
Leia entrevista concedida por celular, de Londres, onde roda uma história de amor.

Folha - Logo no começo de "A Enfermeira Betty" há uma morte brutal e banal. O que acha da morte?
Neil Labute -
Não acho que seja uma morte comum, porque a forma como o personagem é assassinado é muito chocante. O que acontece é que, às vezes, a morte é causada por uma situação banal.

Folha - O sr. acha que no filme há um final feliz?
Labute -
Este é um filme bem diferente de meus anteriores. Acho que há uma certa doçura que percorre o filme. Mas feliz? Não sei. Ao final, acho que a protagonista se sente feliz, ou melhor, se sente satisfeita. Ela está no lugar onde ela deveria estar e parece em paz.

Folha - De onde vem essa doçura?
Labute -
A maior parte vem de Renée Zellweger. Foi a única que imaginei para o papel. Testei outras atrizes por exigência do estúdio. Mas, quando a encontrei, pensei: "Ela é exatamente o que eu imaginei, é perfeita". Eu disse ao estúdio que não conseguiriam ninguém melhor do que ela.

Folha - E como o sr. chegou a Morgan Freeman e Chris Rock?
Labute -
Os dois foram idéia de um dos produtores. Foi a combinação que mais me deixou preocupado, porque eram papéis que poderiam virar um clichê bobo: o jovem falador e o cara mais velho que filosofa. Mas, quando sugeriram que fossem Morgan e Chris, foi adicionado um elemento ao filme que eu não havia visto, sem ter de reescrever uma palavra.

Folha - Isso foi devido a ambos serem negros?
Labute -
Acho que foi algo inesperado. Adicionou uma qualidade surpresa ao filme. O filme tem um tom estranho, que foi acentuado por termos Morgan e Chris.

Folha - No filme, há uma forte crítica à TV. Isso foi proposital?
Labute -
Mais do que à TV, quis enfocar o mundo das celebridades. Não foi uma crítica às novelas. Quis usar a idéia de como uma pessoa pode ser alçada à celebridade e como isso afeta sua vida. Ou como escutamos errado só para condizer com o que queremos.

Folha - Em "A Enfermeira Betty", os bandidos não são tão maus e os mocinhos não são tão bonzinhos...
Labute -
Exatamente. Essa é minha receita. Eu tenho essa tendência de ver mais cinza do que preto ou branco. Normalmente, quando estou trabalhando com o ser humano, tento fazer com que ninguém seja apenas bom. Tirando Betty, os outros personagens são ao mesmo tempo bons e maus.

Folha - O sr. está trabalhando em um novo projeto?
Labute -
Lancei uma peça em Londres, chamada "The Shape of Dance". E estou terminando a adaptação de um livro chamado "Possession". É uma história de amor que vai e volta entre a era vitoriana e os dias atuais.

Folha - É uma nova fórmula?
Labute -
É o tipo de coisa que as pessoas não esperam que eu faça: uma história de amor tradicional. Apresentar algo diferente são ossos do ofício. Não quero mostrar as mesmas velharias.


A ENFERMEIRA BETTY - Nurse Betty. EUA, 2000. Direção: Neil Labute. Com: Renée Zellweger. Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Cinearte, Lumière e Unibanco Arteplex.


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