São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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LIVROS/LANÇAMENTOS

"HISTÓRIA E INTERPRETAÇÃO DE "OS SERTÕES""

Texto de Olímpio de Souza Andrade chega às livrarias em outubro

Clássico sobre obra de Euclydes é reeditado

Renato Alves - 2.out.1994/Folha Imagem
Estátua de Antonio Conselheiro, líder do arraial de Canudos


MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA

Sai do prelo no início de outubro, 36 anos após sua última edição, um marco nos estudos sobre Euclydes da Cunha. Trata-se de "História e Interpretação de "Os Sertões", do pesquisador Olímpio de Souza Andrade. A obra obteve êxito imediato quando foi lançada nos anos 60, ganhando vários prêmios, dentre os quais o Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Esgotadas três edições, Andrade passou a preparar a quarta, mas nunca a viu vir à luz.
Trata-se de uma edição revista e aumentada. O autor não só fez um trabalho minucioso de correção de erros tipográficos, como incluiu alterações de texto e acrescentou subtítulos e notas. Mas infortúnios brecaram a iniciativa: Andrade morreu, aos 65, em 1980, e a editora Edart, que publicaria o livro, fechou as portas.
Por isso, quando a Academia Brasileira de Letras propôs à crítica literária Walnice Nogueira Galvão que organizasse uma nova edição da obra, para integrar a coleção Afrânio Peixoto, ela percebeu que ali estava a oportunidade de concretizar o sonho de Andrade. "Eles não sabiam da existência desse exemplar com emendas autógrafas", conta Walnice à Folha.
Ela era amiga do pesquisador e conhecia seu trabalho de reformulação do texto. Por isso, insistiu para que a família dele procurasse o exemplar perdido. Depois, auxiliada pelo preparador Carlos Alberto Inada, iniciou o trabalho de estabelecimento do novo texto. Primeiro foi necessário corrigir os erros tipográficos e uniformizar os critérios editoriais, para só assim passar as emendas para a nova edição.
Mas qual foi a contribuição do livro para os estudos euclidianos? Para Walnice, foi o fato de Andrade ter "revalorizado a pesquisa de arquivo". O autor realizou um levantamento minucioso, devotando um cuidado especial aos documentos desprezados até então, como os artigos de jornal e revista anteriores à publicação de "Os Sertões", as cadernetas de campo e o livro borrador, onde Euclydes anotava rascunhos de cartas, relatórios de trabalhos e despesas.
Esse cuidado com as minúcias confere à obra um andamento lento. Andrade ocupa-se longamente do período de formação do escritor: a infância no Vale do Paraíba; a educação positivista na Escola Militar; a conturbada participação no contragolpe de Floriano Peixoto e em seu posterior governo. O autor só inicia a análise mais sistemática de "Os Sertões", o principal objeto de estudo, quase no terço final do ensaio.
Mesmo assim "História e Interpretação" proporciona a leitura fluente de um romance. É visível o esforço de Euclydes para criar sua obra-prima. A fim de preencher as lacunas de sua formação, estudou com afinco os clássicos portugueses e brasileiros. "Nessa época, Euclydes lê abundantemente para "Os Sertões"", confirma Walnice, "embora não tenha digerido tudo, conforme percebemos pela análise da obra."
Andrade combate a idéia de que o escritor tenha sido um positivista ferrenho e que essa doutrina embote a força de "Os Sertões". "Euclydes se ligou à ciência de seu tempo muito menos do que se supõe", escreve o pesquisador. Walnice concorda, embora saliente que, mesmo sem grande convicção, era impossível ficar alheio à atmosfera "positivista, determinista e cientificista" da época.
Walnice conta que Andrade redigia uma segunda parte da obra quando morreu. Chama-se "Euclydes depois de "Os Sertões'". Sua intenção inicial era abarcar toda a vida de Euclydes, mas o trabalho cresceu tanto que o pesquisador foi obrigado a interromper a narrativa no ponto em que se publica "Os Sertões".
A partir daí, tanto a vida quanto a obra de Euclydes tomam novo rumo. "Esta história ficou para um segundo livro, talvez até um terceiro, pois achamos que o material não caberia num volume só", explica Walnice. Por estar incompleta, nenhuma editora ainda se interessou pela segunda parte.
"É uma pena", lamenta Walnice, "pois se trata de uma obra muito importante". Quem sabe não chegou a hora de este texto inédito também vir a lume?


História e Interpretação de "Os Sertões"     
Autor: Olímpio de Souza Andrade
Editora: Academia Brasileira de Letras
Quanto: R$ 50 (526 págs.)




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