São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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DOCUMENTÁRIO

Retrato da viola em tom de humanidade

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

O filme é muito simples. O que, no caso, é uma virtude: filmar a música toca no limite do que podem as imagens, e a vida de Johannes Oelsner se confunde com a arte que praticou ao longo de quase 70 anos de carreira.
Nascido na Alemanha, em 1915, chegou ao Brasil em 1939. Tocava viola com o Quarteto Fritzsche, de Dresden. A Guerra começou, o Quarteto ficou. E Oelsner nunca mais sairia daqui. Um casamento de mais de 50 anos e outro, também longevo, com o Quarteto de Cordas Municipal de São Paulo (1944-79), explicam e justificam seu carinho pelo país.
Ao longo desse tempo, fez amizades com Mário de Andrade, Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e tocou com Guiomar Novaes e Magdalena Tagliaferro, entre outros. Com os colegas do quarteto -Gino Alfonsi, Alexandre Schaffmann e Calixto Corazza-, foi responsável pela estréia de inúmeras peças e manteve por décadas a qualidade da música de câmara na cidade.
O filme é simples: concentra-se num depoimento de Oelsner. Escuta suas palavras com interesse. E com esse interesse faz eco à dignidade de uma vida de músico.
Se filmar a música toca num limite da imagem, o melhor acaba sendo pontuar as histórias com cenas de época, fotografias, documentos. Um "quarteto fantasma" faz as vezes do Municipal, tocando trechos de Mozart, Dvorak, Villa-Lobos (em gravações de outros quartetos).
O antigo Quarteto Municipal virou hoje o Quarteto de Cordas da Cidade, elogiado com justiça por Oelsner, que se aposentou, mas ainda dá aulas, em Osasco, e toca em casamentos, "por prazer". Na última cena, ele sai da Igreja de São Francisco, depois de uma dessas bodas. Sozinho na noite, na avenida Europa, ele vai caminhando, sem traço de cansaço, sem desilusão. A gente se sente pequeno, vendo de trás tanta humanidade e tanta música.


VARIAÇÃO SOBRE UM QUARTETO DE CORDAS. Quando: hoje, às 14h; amanhã, às 18h30, na SescSenac.


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