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DOCUMENTÁRIO
Retrato da viola em tom de humanidade
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
O filme é muito simples. O
que, no caso, é uma virtude:
filmar a música toca no limite do
que podem as imagens, e a vida de
Johannes Oelsner se confunde
com a arte que praticou ao longo
de quase 70 anos de carreira.
Nascido na Alemanha, em 1915,
chegou ao Brasil em 1939. Tocava
viola com o Quarteto Fritzsche, de
Dresden. A Guerra começou, o
Quarteto ficou. E Oelsner nunca
mais sairia daqui. Um casamento
de mais de 50 anos e outro, também longevo, com o Quarteto de
Cordas Municipal de São Paulo
(1944-79), explicam e justificam
seu carinho pelo país.
Ao longo desse tempo, fez amizades com Mário de Andrade, Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e
tocou com Guiomar Novaes e
Magdalena Tagliaferro, entre outros. Com os colegas do quarteto
-Gino Alfonsi, Alexandre
Schaffmann e Calixto Corazza-,
foi responsável pela estréia de
inúmeras peças e manteve por décadas a qualidade da música de
câmara na cidade.
O filme é simples: concentra-se
num depoimento de Oelsner. Escuta suas palavras com interesse.
E com esse interesse faz eco à dignidade de uma vida de músico.
Se filmar a música toca num limite da imagem, o melhor acaba
sendo pontuar as histórias com
cenas de época, fotografias, documentos. Um "quarteto fantasma"
faz as vezes do Municipal, tocando trechos de Mozart, Dvorak, Villa-Lobos (em gravações de outros quartetos).
O antigo Quarteto Municipal virou hoje o Quarteto de Cordas da
Cidade, elogiado com justiça por
Oelsner, que se aposentou, mas
ainda dá aulas, em Osasco, e toca
em casamentos, "por prazer". Na
última cena, ele sai da Igreja de
São Francisco, depois de uma dessas bodas. Sozinho na noite, na
avenida Europa, ele vai caminhando, sem traço de cansaço,
sem desilusão. A gente se sente
pequeno, vendo de trás tanta humanidade e tanta música.
VARIAÇÃO SOBRE UM QUARTETO DE
CORDAS. Quando: hoje, às 14h; amanhã,
às 18h30, na SescSenac.
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