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"Ampliação não criará gastos", defende Júlio Neves
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há dez anos como presidente
do Masp, o arquiteto Júlio Neves,
73, afirma que sua prioridade tem
sido "a coleção do museu". Agora, com a pretendida expansão
para o prédio ao lado, Neves busca cuidar melhor do setor educativo. "Essa era uma iniciativa pioneira do [Pietro Maria] Bardi e,
desde que nos mudamos para cá,
não temos o espaço adequado."
Crise não é palavra que sai da
boca de Neves. Para ele, o museu
está superavitário e, com a expansão, irá triplicar sua área, contando a galeria Prestes Maia, no centro, que terá o Museu da Moda.
Umas das críticas à sua gestão
tem sido o zelo pela parte estrutural e o descuido da programação,
que nem sequer tem curadores.
"Estamos estudando a contratação de curadores", afirma Neves.
O arquiteto falou com a Folha
sobre as polêmicas criadas por
seu projeto expansionista. Leia a
seguir trechos da entrevista.
Folha - É verdade que o Masp tem
um déficit anual de R$ 1 milhão,
pois gasta R$ 6 milhões enquanto
arrecada R$ 5 milhões?
Júlio Neves - Não é verdade. Eu
disse ao [Carlos Augusto] Calil
[secretário municipal da Cultura]
que gastamos cerca de R$ 6 milhões e que, em 2004, ficou faltando pouco, tanto que no balanço tivemos superávit de R$ 143 mil entre o que gastamos e recebemos.
Folha - O museu é superavitário?
Neves - Não, no começo do ano é
difícil. No dia 31 de dezembro nós
tínhamos um superávit, mas temos coisas a receber e a pagar. Vivemos num regime de tolerância.
Folha - Calil, em entrevista à Folha, disse que as dívidas do Masp
são pequenas e que o município
poderia pagá-las, desde que o museu fosse mais democrático. Acha
que o Masp não é democrático?
Neves - Não acho isso. As pessoas que dirigem o Masp são como testamenteiros. O museu foi
fundado por 30 pessoas, que foram os doadores da maior parte
da coleção, e esses doadores impuseram um tipo de administração que precisa buscar seus recursos de sobrevivência. Não temos
uma renda, como certas fundações têm, vivemos de performance. Nós seguimos o modelo daqueles que nos criaram.
Folha - Agora o Masp comprou o
prédio aqui do lado...
Neves - Sim, mas para isso tivemos patrocínio específico, fizemos um acordo que garante tanto
as parcelas pagas como as que
ainda serão pagas. No prédio, não
foram usados incentivos fiscais.
Folha - Foram pagos R$ 8,6 milhões e faltam R$ 3,6 milhões?
Neves - Sim, mas não tem importância, está tudo assegurado
pelo patrocinador.
Folha - A Vivo é a patrocinadora?
Neves - Isso eu não posso dizer,
pois o patrocinador não quer ser
identificado.
Folha - Quanto vai custar a construção da torre?
Neves - Estamos em função do
projeto que será acertado, mas já
temos patrocínio para fazer grande parte da obra e outras promessas de patrocínio, vinculadas a isso. Se você me perguntar por quê,
vou dizer o seguinte: as empresas,
hoje, estão dando mais valor para
aquilo que possa ficar em caráter
de longo prazo. A Tim fez o auditório do Ibirapuera, a Abril construiu um teatro, e o Pão de Açúcar, uma fonte. Há outros exemplos. Já as exposições têm duração
limitada, com caráter curto. Buscamos um novo modelo.
Folha - Mas isso não vai só aumentar os custos do Masp?
Neves - Não, porque queremos
fazer lá uma escola de criatividade
e já temos oferta de parcerias com
duas ou três universidades. Claro
que o Masp jamais faria algo sem
ter o controle de qualidade, mas
não vamos cuidar da administração, pois aí teríamos que aumentar o número de funcionários.
Muito provavelmente, isso trará
um resultado que, para nós, mesmo que empate, é a nossa função.
Folha - O Compresp já vetou a
obra no prédio ao lado. Como fica o
patrocinador, caso a obra seja de
fato proibida?
Neves - Estamos discutindo no
Compresp uma parte do projeto,
que é o mirante, mas o resto está
aprovado. O órgão aprovou o
prédio como está, e tanto o Iphan
como o Condephaat já aprovaram tudo. Mas temos mantido
contato com o Compresp e não
quero entrar no juízo de valor. Espero que eles não venham a prejudicar o museu. Com a galeria
Prestes Maia e o novo prédio, vamos triplicar nossa área, ampliação que não acontecia desde 1968.
Se a gente quisesse crescer, não tinha para onde. Agora, se você
olhar esse prédio ao lado, ele está
abandonado há dez anos e representa um retrocesso à imagem da
avenida Paulista. Se fosse qualquer outro particular que fosse fazer, todo mundo iria aplaudir.
Folha - Arquitetos do IAB, como a
representante da entidade no
Compresp Mônica Junqueira de Camargo, defendem que o Masp promova um concurso para escolher o
projeto a ser construído no prédio
ao lado. O que o senhor acha disso?
Neves - Não sou contra concurso. Apenas nesse caso específico,
quando começamos a trabalhar
nisso, quatro anos atrás, não havia hipótese de fazer um concurso. Em primeiro lugar, meu escritório deu o projeto de graça, para
que isso desse uma possibilidade
de o Masp conseguir o prédio. Fizemos isso para obter os parâmetros, que a prefeitura fornece.
Agora é difícil realizar o concurso
e não nos sentiríamos confortáveis em abrir um concurso dizendo que quem ganhar não vai receber nada, tem que doar!
Folha - Há arquitetos que dizem
que o senhor está advogando em
causa própria ao propor um projeto de sua autoria ao lado do prédio
de Lina Bo Bardi....
Neves - Quem me conhece sabe
que não preciso disso. Fiz mais de
500 prédios na cidade.
Folha - O senhor cuida muito da
parte estrutural do museu, mas a
programação e as exposições não
estão abandonadas?
Neves - Se amanhã recebermos
uma grande doação, não teríamos
para onde expandir. No máximo,
dez museus do mundo têm a coleção que nós temos. Veja só, o MoMA de Nova York fez uma expansão e, dos 58 mil m2 que ele ficou,
11.600 m2 são para exposições, ou
seja, 20%. Os outros 80% são para
restauro, pesquisa, atividades que
complementam a atividade do
museu, como ensino. Nossa prioridade, nos últimos dez anos, tem
sido a coleção. Nesse período, restauramos cem obras. Com a expansão, vamos poder cuidar do
setor educativo, que era o que o
Bardi fazia e era extremamente
importante em seu período.
Folha - Mas o MoMA tem 30 curadores e o Masp nenhum!
Neves - Isso eu não queria adiantar, mas estamos com um grupo
de trabalho para secionar curadorias em função do que a gente pretende. Mas, se não tivéssemos esses novos espaços, não teríamos
condições. Agora, estamos estudando a contratação de curadores, pois temos consciência da
responsabilidade que temos.
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