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Comentário
Redes vendem um padrão de paladar medíocre
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
A inda bem que há nesta
página um crítico para avaliar "Nação Fast Food" como
cinema. Atenho-me a falar,
portanto, do "conteúdo", o
assunto comida, começando
por dizer que o filme permite
(como todos) uma leitura anterior ao do tema (hambúrguer). Ou seja, pode estar falando não só da indústria da
fast-food, mas do consumo
de massa em geral.
As mazelas do hambúrguer de uma grande rede se
assemelham às de uma grande indústria de pneus ou tênis: a produção em massa
tende a maximizar o lucro às
custas da qualidade ou de
condições humanas de trabalho. Mas acho que o melhor local para mostrar isso
não é uma ficção.
Até me cansa esta propaganda infantil contra o hambúrguer, que mostra cenas
feias de bois estripados como
se o consumo de carne fosse
condenável ou fosse possível
manter nossa atávica tradição carnívora sem abater a
comida. A humanidade sempre estripou antigamente,
com os próprios dentes, seu
alimento. Não está aí o problema do hambúrguer.
Existe o problema ético de
indústrias sem escrúpulos,
claro. Mas há outro lado do
problema que a indústria nos
impõe. É de estética, é de
gosto, é de bom gosto. Essas
grandes redes nivelam por
baixo o gosto médio americano (que já é baixíssimo). E
exportam este padrão. Há tênis feitos por crianças exploradas, mas que têm qualidade. Já as redes de fast-food, com uma propaganda voltada para a vulnerabilidade infantil, impingem um padrão
de paladar medíocre e difundem uma ideologia do mau
gosto: ganhe um brinquedinho ridículo (um palhaço) e
coma (como um palhaço)
uma comidinha ridícula. Se é
pra falar da nação do fast-food, faltou falar isso.
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