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Crítica/"Exuberante Deserto"
Drama simplifica conflitos ao mostrar mudanças em kibutz
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O olhar detalhista e afetivo na recriação do cotidiano em um kibutz,
nos anos 70, sugere que "Exuberante Deserto" tenha buscado sua matéria-prima na experiência do diretor e roteirista
Dror Shaul, 36.
De fato, ele viveu até os 22
anos no kibutz onde nasceu, no
sul de Israel. Em 1974, quando
a história do filme se passa, ele
tinha apenas 3 anos, e não 12,
como seu protagonista. A diferença talvez ajude a entender
por que as emoções evocadas
estão mais próximas da infância do que da adolescência.
Dvir (Tomer Steinhof) está
no ano do bar mitzvah, que representa sua iniciação religiosa
adulta. Órfão de pai, ele vive
com a mãe (Ronit Yudkevitz) e
o irmão mais velho (Pini Tabger) em um kibutz que se orgulha de ser progressivo, submetido ao poder supremo das decisões e de interesses coletivos.
A utopia comunitária de uns
pode representar, no entanto, a
prisão torturante de outros. É
assim, ao menos, que se desenha a rotina de Dvir nessa fazenda cujas regras inflexíveis
lhe parecem, muitas vezes, obscuras. Para esse menino em
pleno rito de passagem, o comportamento adulto ainda está
repleto de mistérios.
Boa parte do que ele não
compreende ronda a mãe, de
fragilidade psicológica incompreensível para o filho caçula. A
dura reação da comunidade ao
que ela pensa e faz também lhe
parece desproporcional, incluindo o tratamento ao namorado suíço e não-judeu (Henri
Garcin) que a visita no kibutz.
Desconectado
A sensação de isolamento do
exterior, bem traduzida visualmente na espera pelo ônibus
que mantém a fazenda conectada com o restante do planeta,
também contribui para o desconforto de Dvir, que alterna
situações leves e bem-humoradas com momentos mais densos e tristes.
As relações entre mãe e filho
examinadas por Shaul poderiam se dar (e se dão, diariamente) em qualquer tempo e
espaço. O desenvolvimento do
roteiro no pragmático laboratório do Sundance Festival (onde o filme obteve um de seus diversos prêmios) tem a ver com
a busca de abordagem universal para esse aspecto da trama.
As circunstâncias da história,
no entanto, envolvem um mal
disfarçado rancor por desvios
do kibutz, com a vilanização de
certos personagens e a conseqüente simplificação do que
haveria ali de mais complexo: o
impacto, sobre ideais comunitários, das práticas executadas
em nome deles.
EXUBERANTE DESERTO
Direção: Dror Shaul
Produção: Israel, Alemanha e Japão,
2006
Com: Tomer Steinhof, Pini Tabger
Onde: em cartaz no Pátio Higienópolis
e Reserva Cultural
Avaliação: regular
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