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Crítica/artes plásticas
Exposição revela diversidade da produção dos anos 70
Mostra "Arte como Questão", em cartaz no Tomie Ohtake, acerta no recorte do intenso e variado período que revê
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os anos 60 e 70 foram
decisivos para uma nova formulação da arte,
marcada pelo que o crítico Mário Pedrosa (1900-1981) definiu
como "o exercício experimental da liberdade". Enquanto na
Europa e nos Estados Unidos a
produção mais radical questionava as próprias instituições
artísticas e mesmo as instituições de forma geral, no Brasil,
tal orientação voltava-se também contra a ditadura que vigorava no país. "Há necessidade
de tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais e éticos", defendia Hélio
Oiticica (1937-1980), naquele
período.
Ambas as citações estão estampadas nas paredes da mostra "Arte como Questão Anos
70", no Instituto Tomie Ohtake
(ITO), com curadoria de Glória
Ferreira. Sem ser didática, mas
contextualizando algumas das
principais questões do período,
a exposição consegue rever esse momento intenso na arte
brasileira, sem torná-lo por demais contido ou institucionalizado, um dos problemas das revisões dessa época.
Nesse sentido, um dos acertos da curadoria foi apresentar
um grande número de artistas
(são mais de cem), e um grande
número de obras (mais de 200).
Com isso, revela-se a diversidade daquele período, identificada por uma vasta experimentação em meios como a fotografia e o vídeo, e mesmo em publicações de vários tipos, de cartões-postais a revistas.
Referências
Também foi correto evitar
um destaque demasiado às produções de Hélio Oiticica e Lygia
Clark, que hoje se tornaram as
principais referências daquele
momento, mas que, nos anos
60 e 70, estavam de fato inseridos no conjunto da produção.
Ambos participam com trabalhos bastante radicais, os
"Objetos Sensoriais", no caso
de Clark, e o filme "Agripina É
Roma-Manhattan", de Oiticica,
que alguns críticos nem sequer
consideram trabalhos artísticos, evidente bobagem.
Senão, o que dizer de "Inserções Artísticas em Circuitos
Ideológicos", de Cildo Meireles, bastante bem representado
na mostra? Sua importância está justamente em representar
as características que definiram aquela época, na discussão
da arte e do contexto.
Mesmo a produção pop daquela época, em pinturas de
Raimundo Colares, Geraldo de
Barros e Nelson Leirner, entre
outros, também está inserida
nesse debate, pelo uso dos suportes, das tintas e dos temas.
Mas o que acaba por se confirmar de fato na mostra, e nesses
trabalhos pop isso se torna evidente, é que tal experimentação jamais deixou de se preocupar com sua formalização, ao
contrário do que críticos da arte conceitual sempre insistiram em apontar.
ARTE COMO QUESTÃO ANOS 70
Quando: de ter. a dom, das 11h às
20h, até 28/10
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av.
Faria Lima, 201 entrada pela r. Coropés, Pinheiros, SP, tel. 2245-1900)
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo
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