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À vontade, Skolimowski desfruta da fama no Rio
Festival carioca recebe cineasta após os prêmios de "Essential Killing" em Veneza
Diretor diz ter escolhido a cidade entre "uns 50 convites" de viagens; "Meu instinto estava certo. É fantástico"
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A RIO
O copo de caipirinha na
mão e os óculos escuros a
servir de proteção a um sol
que já tinha ido embora não
deixavam dúvidas: Jerzy
Skolimowski, 72, estava mais
do que à vontade no Rio.
Duplamente premiado na
mostra internacional de Veneza, encerrada há duas semanas, o diretor polonês desembarcou no Galeão com o
status de grande convidado
do Festival do Rio.
A cidade é, afinal de contas, sua primeira parada depois do Prêmio Especial do
Júri presidido por Quentin
Tarantino e do Leão de melhor ator para Vincent Gallo,
protagonista de "Essential
Killing" (assassinato básico).
CONVITES
"Depois de Veneza, começaram a me ligar de todos os
lugares", diz o cineasta, cansado só de lembrar.
"Foram uns 50 convites,
pelo menos. Eu tinha que escolher um. Ou nenhum. Mas
aí tive vontade de vir para o
Rio. Meu instinto estava certo. Isto aqui é fantástico. A
natureza é linda. As pessoas
são calorosas e otimistas",
afirma ele.
Isso tudo é, curiosamente,
o oposto do que Skolimowski
leva à tela. Seu cinema enquadra o ser humano em
seus desvãos, em suas atitudes mais cruéis.
"Essential Killing" mostra
um homem que, perseguido
pela polícia sob acusação de
terrorismo, passa a agir como
um animal. Guiado pelos instintos, é capaz de fazer qualquer coisa para sobreviver.
"Não sou nada otimista.
Por isso gostei tanto do Rio.
Os cariocas têm o que eu não
tenho", diz, com ar jocoso.
VIDA DE PINTOR
Além do filme premiado
em Veneza, o Festival do Rio
apresenta uma retrospectiva
que inclui outros cinco títulos do cineasta.
Cultuado nos anos 1960 e
1970, Skolimowski ficou
duas décadas sem fazer filmes. No final dos anos 1980,
foi morar em Malibu e passou
a viver como pintor. Alguns
astros de Hollywood, como
Jack Nicholson e Dennis Hoper (1936-2010), estão entre
os compradores famosos de
seus quadros.
"Pintar lhe permite viver
em paz. Isso não acontece
quando você faz cinema. Fiz
dois filmes agora, mas não
sei se farei outros", disse à
Folha, em Veneza, antes de
receber os prêmios.
Mas o reconhecimento parece ter acariciado seu desejo
de fazer mais longas. "Não
tenho nenhum projeto. Mas
tenho vontade de fazer outro
filme, sim", afirma, antes de
pedir outra caipirinha.
Sua única certeza é que
Hollywood, onde trabalhou
antes de largar tudo, não é
seu lugar.
Tanto é assim que, quando decidiu voltar ao set, em
2008, voltou para a Polônia
natal. "Em Hollywood, deixei de ser um artista."
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