São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010

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CRÍTICA ERUDITO

Econômico, Tibiriçá rege quase só com o olhar

Competência do maestro é destaque da Sinfônica Heliópolis, que tocou domingo em SP, antes de turnê pela Europa

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Antes, a intervenção com direção cênica de José Possi Neto: sob o batuque da percussão, cordas e sopros entraram em cena desfilando, rodopiando instrumentos.
Depois, a assinatura de convênio entre a Prefeitura de São Paulo e o Instituto Baccarelli; e, no meio, música de qualidade interpretada pela Sinfônica Heliópolis, regida por Roberto Tibiriçá.
O concerto do último domingo na Sala São Paulo ocorreu três dias antes do início da primeira turnê europeia dos 75 jovens, que participarão do Festival Beethoven em Bonn -cidade natal do compositor (1770-1827)- e farão outras apresentações na Alemanha e também na Holanda e na Inglaterra.
A Sinfônica Heliópolis (que não é formada apenas por membros da comunidade) é o grupo de excelência de um projeto educacional consistente, que inclui também a Orquestra do Amanhã e o Coral da Gente.
O maestro indiano Zubin Mehta, patrono do grupo, esteve presente no concerto, após haver regido, pela manhã, no Parque Ibirapuera.
No breve programa, as "Bachianas Brasileiras nº 4" de Villa-Lobos (1887-1959) e a "Sinfonia nº 8" de Beethoven. Villa-Lobos inscreveu o tempo de Bach no espaço brasileiro do século 20, enquanto que Beethoven é o pioneiro da modernidade, o músico que primeiro escancarou as fraturas da subjetividade.
Discípulo de Eleazar de Carvalho (1912-1996), Roberto Tibiriçá tem um gestual econômico, voltado apenas para a estrutura musical. As frases -conduzidas com gentileza e elegância- estão sempre sob controle.
Ao pressentir a mera possibilidade de um desencontro, frequentemente para de se mexer, o que direciona o foco dos músicos para a pura escuta, resolvendo tudo.
No "Allegretto" da "Oitava", regeu quase apenas com o olhar: que bom que a Sinfônica possa contar com um regente titular tão experiente e competente.

PELO MUNDO
Durante a turnê, serão apresentadas também outras obras, com destaque para "Cidade do Sol" -tradução literal da expressão grega "heliópolis"-, especialmente composta por André Mehmari para o grupo.
Foi um incêndio na favela, em 1996, que motivou Silvio Baccarelli a começar a lutar pelo ensino de música na região. Depois de 14 anos, a música mexe com a cidade e ganha o mundo, deixando para trás a "Estrada das Lágrimas", agora tão-só o nome da rua em que se localiza o Instituto Baccarelli.

SINFÔNICA HELIÓPOLIS
AVALIAÇÃO bom


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