São Paulo, segunda, 28 de setembro de 1998

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Ficção brasileira ressurge

BERNARDO AJZENBERG
Secretário de Redação

Marcelo Rubens Paiva, 39, Patrícia Melo, 35, e Fernando Bonassi, 35, fazem parte de uma espécie de ressurgimento da literatura de ficção brasileira nos anos 90.
Embora tenham deglutido ingredientes de vertentes vanguardistas da produção cultural, seus traços mais marcantes, comuns aos três e que explicam em parte sua opção por um teatro de enfoque aparentemente tradicional são: a retomada da narrativa; a fábula como motor da obra; a preocupação explícita com temas sociais brasileiros (política, violência, miséria); a linguagem voltada para uma leitura sem obstáculos.
Visível e assumidamente, não estão com as atenções voltadas com prioridade para o estilo. Este, no caso, brota de uma intenção muito mais declamatória, realista -mais política, em última instância, do que experimentalista. São raras as incursões psicológicas.
Autor prolífico, Bonassi costuma utilizar recursos linguísticos diferenciados (ora diálogo, ora narrativa em primeira pessoa, ora em terceira). Solta o verbo, vamos dizer, de qualquer forma.
Patrícia escreve por flashes, de modo vertiginoso. Falações, raciocínios e detalhes de ambiente ou ação misturam-se como num caleidoscópio.
Paiva tem uma história mais longa (o best seller "Feliz Ano Velho" é de 82) e opta por uma linguagem que, embora igualmente descompromissada e atenta ao coloquial, deve menos aos ziguezagues do vídeo, TV ou cinema do que a de Patrícia e Bonassi (estes últimos, não por acaso, são também roteiristas).
É precipitado falar em Geração 90 no caso da literatura. Mas, certamente, começam a se consolidar elementos que talvez daqui a algumas décadas poderão ser analisados, em seu conjunto, como expressão de uma confluência autoral significativa. Esses três autores constituem um exemplo dessa gestação.



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