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Ficção brasileira ressurge
BERNARDO AJZENBERG
Secretário de Redação
Marcelo Rubens Paiva, 39,
Patrícia Melo, 35, e Fernando
Bonassi, 35, fazem parte de
uma espécie de ressurgimento
da literatura de ficção brasileira
nos anos 90.
Embora tenham deglutido
ingredientes de vertentes vanguardistas da produção cultural, seus traços mais marcantes,
comuns aos três e que explicam
em parte sua opção por um teatro de enfoque aparentemente
tradicional são: a retomada da
narrativa; a fábula como motor
da obra; a preocupação explícita com temas sociais brasileiros
(política, violência, miséria); a
linguagem voltada para uma
leitura sem obstáculos.
Visível e assumidamente, não
estão com as atenções voltadas
com prioridade para o estilo.
Este, no caso, brota de uma intenção muito mais declamatória, realista -mais política, em
última instância, do que experimentalista. São raras as incursões psicológicas.
Autor prolífico, Bonassi costuma utilizar recursos linguísticos diferenciados (ora diálogo, ora narrativa em primeira
pessoa, ora em terceira). Solta o
verbo, vamos dizer, de qualquer forma.
Patrícia escreve por flashes,
de modo vertiginoso. Falações,
raciocínios e detalhes de ambiente ou ação misturam-se como num caleidoscópio.
Paiva tem uma história mais
longa (o best seller "Feliz Ano
Velho" é de 82) e opta por uma
linguagem que, embora igualmente descompromissada e
atenta ao coloquial, deve menos aos ziguezagues do vídeo,
TV ou cinema do que a de Patrícia e Bonassi (estes últimos,
não por acaso, são também roteiristas).
É precipitado falar em Geração 90 no caso da literatura.
Mas, certamente, começam a se
consolidar elementos que talvez daqui a algumas décadas
poderão ser analisados, em seu
conjunto, como expressão de
uma confluência autoral significativa. Esses três autores
constituem um exemplo dessa
gestação.
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