|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VÍDEO LANÇAMENTOS
Boogie nights
CECÍLIA SAYAD
da Redação
Tome-se aquilo que um filme
precisa para agradar gregos e
troianos (ou crítica e público).
"Boogie Nights - Prazer sem Limites", de Paul Thomas Anderson,
tem tudo para satisfazer ambos.
Tanto que ter sido retirado do
circuito comercial de São Paulo
após apenas uma semana em cartaz causou espanto. Pouco tempo
depois, voltou em uma sala e um só
horário, estendendo o período de
sua exibição. E lotou sessões.
Não era para menos. Anderson
conseguiu desenvolver uma história cujo conteúdo tem bastante
apelo com uma linguagem que, se
não traz grandes novidades, pelo
menos demonstra inventividade.
O filme apresenta a trajetória de
Dirk Diggler (Mark Wahlberg),
um ator de cinema pornô, do final
da década de 70 (início e apogeu)
até o início dos 80 (decadência).
(Anos 70 para os nostálgicos dos
90. Junte-se a isso os inevitáveis sexo e drogas, nota dez para Anderson em atratividade do tema.)
Ao redor de Diggler, circula uma
galeria de personagens não só fascinantes, mas bem desenvolvidos
-com um lado trágico e outro cômico, às vezes patético, e cujas trajetórias têm finais surpreendentes.
Os principais: Jack (Burt Reynolds), o diretor que cria o mito
Diggler, sua mulher Amber (Julianne Moore), viciada em cocaína,
que perde a guarda do filho do primeiro casamento e possui um instinto maternal que a faz "adotar"
quem aparecer pelo caminho,
"Roller Girl" (Heather Graham),
que nunca tira os patins.
A lista completa é extensa. Mas
ninguém passa desapercebido por
Anderson, que segue o preceito
hitchcockiano de nunca desperdiçar um papel, mesmo secundário.
Uma vez que a questão é o fascínio que exercem os personagens,
cabe observar que o que é mais cativante em Dirk Diggler é a sua ingenuidade. Ainda que ela esteja diretamente relacionada com seu
egocentrismo -todo egoísta tem
um quê de ingênuo.
Diggler possui um pênis de tamanho surpreendente, além disso,
no início de sua carreira, gentileza
e idealismo comoventes.
Claro, todos da equipe de Jack
querem o seu bem -ele é adotado
como mascote e mesmo um possível rival, Reed, é cativado e constitui com Diggler uma dupla que, na
infantilidade de ambos, vai revolucionar o cinema pornô. Até aí, tudo é alegria e a câmera faz maravilhosos "travellings". Os anos, 70.
Aí chegam os 80 e a necessidade
de novos astros. Diggler, ameaçado, afunda-se nas drogas. Perde
eficiência em seu desempenho sexual, larga a carreira e se prostitui.
A câmera fica mais comportada,
entra o drama. O ritmo do filme
muda -o tom, nem tanto.
Se antes havia o trágico por trás
do cômico -vide o pateticismo
das conquistas profissionais de
Diggler, como a série que protagoniza com Reed- agora a desgraça
guarda espaço para o humor -como a absurda missão de engabelar
um louco armado e perigoso que
mora com um chinês que solta fogos de artifício no meio da sala.
O melhor de "Boogie Nights",
porém, não é a fusão dos dois registros, mas a capacidade de extrair poesia do que poderia ser tachado de imoral. O humor de Anderson, que nesse campo poderia
cair em preconceito, reforça antes
um sentimento de simpatia e respeito. Escapar ao moralismo e ao
puritanismo do cinema americano
já é uma grande coisa.
Filme: Boogie Nights - Prazer sem Limites
Direção: Paul Thomas Anderson
Produção: EUA, 1997, 156 min
Com: Mark Wahlberg, Burt Reynolds,
Julianne Moore, Heather Graham
Lançamento: Warner (tel. 011/820-6777)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|