especial para a Folha

Não é a primeira vez que Francisco Everardo Oliveira Silva tem dificuldades financeiras. Antes de ficar famoso com "Florentina", Tiririca viveu na miséria.
Filho de uma artista circense, passou a infância e adolescência viajando pelo Brasil com circos mambembes, ganhando a vida como palhaço e morando em barracas com a mãe e os cinco irmãos: Francisco Hélio, Francisco Erisvaldo, Francisca Egeane, Francisca Egenice e Francisca Egerlane. Só estudou até o 3º primário e mal aprendeu a escrever.
Depois de "Florentina", Tiririca ganhou muito dinheiro. Mudou-se com a família e sua trupe circense para um casarão em SP e presenteou cada um dos 15 integrantes da trupe com um carro. Ganhou seu próprio programa, "Vila do Tiririca", na Manchete. "Era tanto dinheiro que nem sabia o que fazer. Ganhava R$ 30 mil por mês na TV, fazia 45 shows por mês com cachês que iam até R$ 75 mil. Era uma loucura."
Se o povão adorava as músicas e o jeitão de nordestino ingênuo de Tiririca, os críticos malharam impiedosamente seus discos. Mas Tiririca também teve defensores.
O historiador de música popular José Ramos Tinhorão é um dos que vêem qualidade no trabalho: "Tiririca é um artista muito talentoso e engraçado. Sua música vem de uma tradição de arte chula e rasteira que remonta à Grécia antiga. Na música brasileira, esse tipo de música existe há muito tempo. Os lundus tinham letras chulas e o povão sempre gostou de safadeza. Quem não gosta disso é a classe média, que sempre rejeitou a arte popular".
Tinhorão diz que os processos contra Tiririca são fruto de preconceito e ignorância. "Entre as camadas populares, a relação interétnica é diferente da relação entre a classe média. Para haver racismo, é preciso haver a intenção de ofender, e não havia maldade alguma na letra do Tiririca. Os processos contra ele só podem ser justificados por preconceito de classe, preconceito cultural e burrice." (AB)



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