CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

O mais novo membro da ABL (Academia Brasileira de Letras), Roberto Campos, 82, fez na noite de terça forte discurso de posse, no qual comparou o período do governo militar brasileiro com o período socialista da antiga URSS. "Os "anos de aço" foram mais brutais do que os "anos de chumbo.'" Campos citou o discurso de posse feito por Dias Gomes, seu antecessor na cadeira 21 da ABL.
Afirmou que Gomes, em sua posse em 91, "desfolha um libelo contra os chamados "anos de chumbo" do período militar, com seus excessos repressivos e mutilação das liberdades, esquecendo-se de interpretar a peripécia brasileira no contexto da guerra fria". Para o ex-ministro do Planejamento do governo Castello Branco (1964-1967), as alternativas nos anos 60, para o Brasil, eram "ou os anos de chumbo ou os anos de aço". "Os anos de aço duraram 72 anos na União Soviética, quase meio século na Cortina de Ferro e ainda há espécimes ditatoriais sobreviventes", afirmou. Campos lembrou que ele e Dias Gomes tiveram o mesmo número de votos (20) em suas eleições.
Campos disse que nunca se iludiu "com o totalitarismo de esquerda por um raciocínio simples. Deus não é socialista. Criou os homens profundamente desiguais". Vinte acadêmicos participaram da cerimônia, como o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, o senador José Sarney e o ministro do TCU Marcos Vinícius Villaça. Opositores da candidatura de Campos, como Celso Furtado, Eduardo Portella e João Ubaldo Ribeiro, não compareceram.


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