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"Dou o que os repórteres querem", diz Joey Skaggs
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Folha - Por favor, posso falar com
Joey Skaggs?
Joey Skaggs (presumivelmente) -
É ele.
Folha - Como vou saber se é verdade?
Skaggs - Está bem, vou chamar o
verdadeiro Joey Skaggs. (barulho
de alguém andando) Joey! (a mesma voz de antes) Oi, aqui quem
fala é o Joey Skaggs.
Todo cuidado é pouco em se
tratando do artista multimídia
nova-iorquino Joey Skaggs, 50 e
poucos anos.
Afinal, ele ganha a vida enganando a imprensa. Uns usam
acrílica sobre tela, outros fazem
performances ao vivo: Skaggs inventa histórias, e o registro que a
mídia faz dessas histórias é o seu
trabalho artístico.
Foi assim quando convocou
uma entrevista coletiva e, disfarçado de cientista e com vários outros artistas como se fossem seus
colegas de laboratório, anunciou
o transplante de cabelo de cadáver, um método revolucionário
que acabava com a calvície.
Em outra ocasião, lançou o Projeto Salomão. Dizendo ser Joseph
Bonuso, da Universidade de Nova
York, afirmou ter inventado um
software que era capaz de substituir júris.
Na frente dos repórteres, fingiu
colocar os dados do caso O.J.
Simpson e obteve a resposta de
que ele era culpado.
Suas "pegadinhas" já saíram na
CNN, no "The New York Times",
na "Time" e em vários outros órgãos respeitáveis, sempre como se
fossem verdade. Poucos desmentiram depois, revelada a farsa, segundo o artista.
Foi uma dúzia de casos em 32
anos. Procurado pela imprensa, já
mandou amigos darem entrevistas como se fossem ele. Pois o homem que se diz Joey Skaggs está
no Brasil e deu palestra na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) ontem.
Leia sua entrevista à Folha:
Folha - Por que a imprensa?
Joey Skaggs - É o meu laboratório, é onde faço minha obra. Uso a
sátira para ter acesso ao público e
trazer atenção para alguns temas
importantes.
É uma arte de guerrilha. Com a
mídia, tenho muito mais visão do
que se estivesse confinado em
uma galeria.
Folha - Como são as palestras?
Skaggs - Levo vídeos com minhas aparições públicas conforme foram noticiadas. No que estou levando para o Brasil, há muitas dessas performances, desde os
anos 60.
Mostro toda a evolução do meu
trabalho, que começou como o
protesto de um jovem artista irritado com o sistema, que seria preso e apanharia das autoridades
muitas vezes, até a inclusão da sátira e do humor.
Folha - Jornalistas o odeiam.
Skaggs - Meu trabalho costuma
deixar muitas pessoas bravas, inclusive jornalistas, que infelizmente são parte do processo. E,
como ficam irritados, não assumem o erro de julgamento. Muitas vezes, a história simplesmente
não é desmentida e, quando é, os
jornalistas diminuem sua importância ou atacam a minha arte.
Mas conto sempre com a inestimável ajuda da competitividade
dos repórteres, que querem dar a
notícia primeiro e adoram o que é
mais absurdo, mais sexual. Dou o
que eles querem, com a diferença
de que não é verdade.
Folha - Você já foi processado?
Skaggs - Sim, claro, embora tente não desrespeitar a lei. Mas já fui
preso, processado, tudo o que você pode imaginar. Às vezes é de fato perigoso, há muita gente louca
por aí, fanáticos religiosos, racistas, mas é o preço da fama.
Folha - E perseguido?
Skaggs - Já houve algumas tentativas de fazer documentários
sobre o meu trabalho, mas, quando os cineastas ligam para a BBC,
por exemplo, e pedem para usar a
fita com a reportagem exibida como se fosse verdade, eles negam.
Folha - Qual sua inspiração?
Skaggs - Todo o mundo espera
por uma pílula que faça você perder peso ou ter uma ereção. Assim, ninguém é responsável por
nada, é tudo coisa da tecnologia.
O Projeto Salomão, por exemplo,
foi um sucesso porque todo o
mundo queria dar um jeito de
provar que O.J. era culpado.
Folha - A quem já enganou?
Skaggs - É uma lista sem fim.
Inúmeras vezes a CNN, a CBS, a
BBC, os programas "Good Morning America", "Oprah"".
Folha - Nenhum brasileiro?
Skaggs - Em Londres, quando
apareci como o guru Baba Wa
Simba, um queniano que inventou um método revolucionário de
desenvolver o lado animal das
pessoas pelo urro, o programa
"Bom Dia Brasil", da Rede Globo,
fez reportagem comigo. Estou levando a fita para mostrar.
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