São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2000

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"Dou o que os repórteres querem", diz Joey Skaggs

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Folha - Por favor, posso falar com Joey Skaggs?
Joey Skaggs (presumivelmente) -
É ele.

Folha - Como vou saber se é verdade?
Skaggs -
Está bem, vou chamar o verdadeiro Joey Skaggs. (barulho de alguém andando) Joey! (a mesma voz de antes) Oi, aqui quem fala é o Joey Skaggs.

Todo cuidado é pouco em se tratando do artista multimídia nova-iorquino Joey Skaggs, 50 e poucos anos.
Afinal, ele ganha a vida enganando a imprensa. Uns usam acrílica sobre tela, outros fazem performances ao vivo: Skaggs inventa histórias, e o registro que a mídia faz dessas histórias é o seu trabalho artístico.
Foi assim quando convocou uma entrevista coletiva e, disfarçado de cientista e com vários outros artistas como se fossem seus colegas de laboratório, anunciou o transplante de cabelo de cadáver, um método revolucionário que acabava com a calvície.
Em outra ocasião, lançou o Projeto Salomão. Dizendo ser Joseph Bonuso, da Universidade de Nova York, afirmou ter inventado um software que era capaz de substituir júris.
Na frente dos repórteres, fingiu colocar os dados do caso O.J. Simpson e obteve a resposta de que ele era culpado.
Suas "pegadinhas" já saíram na CNN, no "The New York Times", na "Time" e em vários outros órgãos respeitáveis, sempre como se fossem verdade. Poucos desmentiram depois, revelada a farsa, segundo o artista.
Foi uma dúzia de casos em 32 anos. Procurado pela imprensa, já mandou amigos darem entrevistas como se fossem ele. Pois o homem que se diz Joey Skaggs está no Brasil e deu palestra na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) ontem.
Leia sua entrevista à Folha:

Folha - Por que a imprensa?
Joey Skaggs -
É o meu laboratório, é onde faço minha obra. Uso a sátira para ter acesso ao público e trazer atenção para alguns temas importantes.
É uma arte de guerrilha. Com a mídia, tenho muito mais visão do que se estivesse confinado em uma galeria.

Folha - Como são as palestras?
Skaggs -
Levo vídeos com minhas aparições públicas conforme foram noticiadas. No que estou levando para o Brasil, há muitas dessas performances, desde os anos 60.
Mostro toda a evolução do meu trabalho, que começou como o protesto de um jovem artista irritado com o sistema, que seria preso e apanharia das autoridades muitas vezes, até a inclusão da sátira e do humor.

Folha - Jornalistas o odeiam.
Skaggs -
Meu trabalho costuma deixar muitas pessoas bravas, inclusive jornalistas, que infelizmente são parte do processo. E, como ficam irritados, não assumem o erro de julgamento. Muitas vezes, a história simplesmente não é desmentida e, quando é, os jornalistas diminuem sua importância ou atacam a minha arte.
Mas conto sempre com a inestimável ajuda da competitividade dos repórteres, que querem dar a notícia primeiro e adoram o que é mais absurdo, mais sexual. Dou o que eles querem, com a diferença de que não é verdade.

Folha - Você já foi processado?
Skaggs -
Sim, claro, embora tente não desrespeitar a lei. Mas já fui preso, processado, tudo o que você pode imaginar. Às vezes é de fato perigoso, há muita gente louca por aí, fanáticos religiosos, racistas, mas é o preço da fama.

Folha - E perseguido?
Skaggs -
Já houve algumas tentativas de fazer documentários sobre o meu trabalho, mas, quando os cineastas ligam para a BBC, por exemplo, e pedem para usar a fita com a reportagem exibida como se fosse verdade, eles negam.

Folha - Qual sua inspiração?
Skaggs -
Todo o mundo espera por uma pílula que faça você perder peso ou ter uma ereção. Assim, ninguém é responsável por nada, é tudo coisa da tecnologia. O Projeto Salomão, por exemplo, foi um sucesso porque todo o mundo queria dar um jeito de provar que O.J. era culpado.

Folha - A quem já enganou?
Skaggs -
É uma lista sem fim. Inúmeras vezes a CNN, a CBS, a BBC, os programas "Good Morning America", "Oprah"".

Folha - Nenhum brasileiro?
Skaggs -
Em Londres, quando apareci como o guru Baba Wa Simba, um queniano que inventou um método revolucionário de desenvolver o lado animal das pessoas pelo urro, o programa "Bom Dia Brasil", da Rede Globo, fez reportagem comigo. Estou levando a fita para mostrar.


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