São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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"CINEMA VERDADE"

Filme exibe denúncia de fraude no "Fome Zero" em Pernambuco, mas isenta presidente

Documentário francês "blinda" Lula

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Há fraudes no programa "Fome Zero", por "culpa do povo brasileiro, não do [presidente] Lula, que dá a quem necessita".
A afirmação feita por Antônio de Mello Pereira, primo de Lula da Silva, no documentário francês "Lula - La Gestion de l"Espoir" (Lula, a gestão da esperança), é seguida de exemplos.
"Aquele ali todo mês faz fila para receber R$ 50. Ele tem vacas, vende carne, até vai de charrete ao mercado", diz Mello Pereira. A câmera acompanha um homem grisalho numa feira, no interior de Pernambuco.
"Conheço muita gente que não precisa, mas dá um jeito de receber", diz o primo do presidente.
Filmado em janeiro e fevereiro passados pelo diretor Gonzálo Arijón para o canal franco-alemão Arte, o filme está na programação da 29ª Mostra de SP.
No local em que Lula vivia em 1952, Mello Pereira afirma: "Há três anos ele esteve aqui. Pegou um punhado de areia na mão e disse que a terra não tinha mudado". Entram imagens de Lula ao lado do irmão Vavá, suspeito de fazer lobby para empresários.
"Ele [Lula] prometeu consertar isso, trazer a água do rio São Francisco", diz Mello Pereira.
De Pernambuco, o filme segue para São Paulo. "Refizemos o trajeto de Lula, para medir o caminho imenso e caótico que lhe falta percorrer -uma via estreita onde se confundem incessantemente os interesses econômicos e a esperança", diz o diretor.
O Brasil é apresentado como "campeão do mundo no futebol e na desigualdade social" e Lula, como o presidente que o país "não ousou sequer imaginar".
Da propaganda eleitoral de 2002, o filme resgata a frase do candidato Lula da Silva: "O problema da fome no Brasil não é de falta de comida. É de falta de vergonha de certos governantes".
De seu discurso no Fórum Econômico de Davos, em janeiro passado, surge o trecho: "Propus um fundo sobre a transação de armas no mundo, mas poderia ser sobre transações financeiras, sobre o comércio mundial ou sobre o dinheiro que está nos chamados paraísos fiscais".
O filme termina com o Sem-Teto Carlos Braga Silveira afirmando, enquanto remexe o lixo nas ruas do Rio, que "Lula, sozinho, não pode fazer as coisas".
Antes da de Silveira é a voz de Caetano Veloso que ecoa, na canção "Amanhã" ("amanhã/ mesmo que uns não queiram/ será de outros que esperam/ver o dia raiar").


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