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Chet Baker é tema da Coleção Folha do próximo domingo
Glória e desgraça marcaram vida de astro que gravou "My Funny Valentine"
DA REPORTAGEM LOCAL
Um trompete suave, vocais
sussurrados e doses cavalares
de heroína foi a mistura explosiva que fez a glória e a desgraça
de Chet Baker, tema, no domingo que vem, do volume 7 da Coleção Folha Clássicos do Jazz.
Filho de um guitarrista profissional, Chesney Henry Baker
Jr. (1929-1988) cresceu em um
ambiente musical: começou
cantando em um coro de igreja,
e "estourou" em 1952, quando,
já tocando trompete, entrou
para o quarteto do saxofonista
Gerry Mulligan, fazendo a primeira gravação do que seria sua
marca registrada: "My Funny
Valentine", de Rodgers e Hart.
Tornou-se lugar-comum
comparar os brancos Baker e
Mulligan com as proezas de
seus contemporâneos, os gigantes negros do bebop (Charlie Parker, no saxofone, e Dizzy
Gillespie, no trompete). Enquanto Parker e Gillespie favoreciam o uníssono, Mulligan e
Baker tocavam em contraponto, com solos que dialogavam e
se entrelaçavam.
Além disso, ao universo de
improvisação intelectualizada
e agressiva do bebop, que vicejava na costa leste dos EUA,
eles opunham um estilo mais
suave, cantável, lírico e "acessível". Estava fundado o cool jazz.
O mesmo jeito doce de entoar as melodias ao instrumento, Baker empregava como cantor. No limite entre a declamação, o canto e o sussurro, seu
estilo vocal é tido como uma
das influências da bossa nova.
Logo a heroína faria seu estrago no astro. Sucederam-se
episódios de prisão e deportação na Itália, Alemanha e Inglaterra até que, em 1966, ele começou a ter que se apresentar
de dentadura, pois sua boca estava literalmente arrebentada
-para uns, em decorrência de
uma briga por drogas, em San
Francisco; para outros, a tal
briga jamais existiu, e a deterioração da saúde bucal do musicista foi efeito de seu vício.
Baker, então, se dedicou a um
repertório pouco exigente tecnicamente, e no limite da música francamente comercial, "de
elevador". Adaptado finalmente à dentadura, ele voltou ao
jazz em 1974, conquistando de
vez o público europeu.
Baker já vivia mais na Europa
que nos EUA quando, em 1988,
foi encontrado morto na rua,
embaixo de seu quarto de hotel
em Amsterdã, em um incidente
até hoje nebuloso. Em uma
queda de janela, acidental ou
provocada, o jazz perdia sua
voz mais delicada.
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