São Paulo, quarta-feira, 28 de outubro de 2009

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Acima do tom

Preços altos descontentam assinantes da Osesp; orquestra diz que taxa foi criada para bancar custos de serviços exclusivos

MARCUS PRETO
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que foram divulgados, na quarta-feira da semana passada, os preços das assinaturas para a temporada 2010 da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) vêm causando revolta em alguns assinantes desses espetáculos.
O aumento no preço de bilheteria assumido pela instituição é de aproximadamente 17%. Mas uma nova taxa de gerenciamento das assinaturas, somada ao custo de entrega dos ingressos, acaba causando um acréscimo de até 70% em alguns dos novos pacotes em relação ao valor pago pelo mesmo produto no ano passado.
A taxa de gerenciamento é novidade. Está sendo colocada em prática pela primeira vez agora, na temporada 2010.
"Aparentemente, terceirizaram o serviço administrativo e repassaram os custos para os assinantes", diz Fulvio Atilio Salmaso, 66, que, com a mulher e a irmã, assina dez programas da Osesp há oito anos. Para ele, o problema maior é para os idosos. "Esse aumento fez muita diferença."
Isso acontece porque, em casos de meia-entrada -privilégio de estudantes, aposentados e maiores de 60 anos-, essa taxa de gerenciamento, que é fixa, acaba representando uma porcentagem bem maior em relação ao valor inicial do ingresso.
Efeito parecido sofrem os preços das assinaturas em relação ao das entradas compradas diretamente na bilheteria. Um espectador que se beneficie da meia entrada pagaria R$ 513 no pacote mais caro da Osesp se comprasse os ingressos avulsos. O preço para assinantes é R$ 603 -R$ 90 mais caro.
"Assinatura tem que sair sempre mais barato do que quando se compra avulso. É assim quando você assina qualquer revistinha" compara Lígia Marília Fornari, 69, que tem quatro assinaturas "desde que existe a Sala São Paulo" e coleciona todos os programas desde 1999. "E o assinante paga a todo o pacote em três meses. Merece ter esses benefícios."
Nas outras entidades que realizam temporadas de música clássica, o preço das assinaturas é menor do que o preço avulso dos concertos.
No Mozarteum, por exemplo, a assinatura da programação de 2010 custa entre R$ 400 e R$ 1.100 (para quem já é assinante). Se for comprar ingresso individualmente para cada concerto, uma pessoa pagará 25% a mais. O Mozarteum teve mil assinantes em 2009.
A Sociedade Cultura Artística, assim como a Orquestra Sinfônica Brasileira, esta do Rio de Janeiro, ainda não definiram programação nem preços de 2010. Já o Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer) aumentou a programação de cinco (em 2009) para seis (2010) concertos. O preço da assinatura em 2009, de R$ 500, sofrerá aumento de 20% em 2010.
De acordo com produtores ouvidos pela Folha, o preço maior dos ingressos no ano que vem se justificaria devido a um aumento de custos de produção desses eventos.
"Para trazer uma orquestra ao Brasil, pagamos seguro de instrumentos, impostos, vistos de trabalho, direito autoral, locação de teatro, divulgação, transporte, hotel, entre outros custos", afirma Angelo Mugia, coordenador de programação do Mozarteum. "Assim, trazer uma grande orquestra, para três ou quatro concertos, custa em torno de US$ 500 mil."
Segundo Mugia, o valor arrecadado com venda de ingressos cobre apenas de 20% a 30% dos custos de operação. "O restante vem de patrocinadores."
Gabriel Valente, diretor musical e cultural da Tucca, afirma que a associação inscreveu na Lei Rouanet um projeto de R$ 1,6 milhão para custear a programação de 2010. "O patrocínio para eventos de música clássica no Brasil é feito praticamente com 100% de incentivo fiscal", diz.
A crise econômica afetou indiretamente a programação erudita brasileira. As entidades daqui não sofreram grandes problemas com falta de patrocínio, mas tiveram que reparar estragos causados fora do país.
"Em 2009, tivemos duas orquestras, uma da França e uma da Irlanda, que cancelaram as apresentações no Brasil porque tiveram verbas cortadas pelos governos de seus países. Fomos obrigados a cancelar os eventos", revela Mugia. "Para 2010, ainda não tivemos nenhuma dificuldade, as atrações já estão confirmadas."
"O mercado de música erudita no Estados Unidos ficou estagnado em 2009, principalmente no primeiro semestre", avalia Valente. "[Naquele país] Algumas associações ficaram sem patrocínios e os artistas, então, passaram a procurar outros mercados, como o Brasil. Isso barateou alguns custos."
Todo o dinheiro arrecadado com bilheteria pela Tucca é destinado ao atendimento de crianças com câncer. Para baratear custos, a associação traz apenas solistas de fora. Para organizar um evento com uma orquestra brasileira com 70 integrantes, a entidade estima custo de cerca de R$ 250 mil por cada concerto.
"Temos custos de ensaios, do concerto em si. Um músico normalmente cobra por três horas de ensaio. Fora o gasto com transporte e acomodação, seguro de instrumentos, alimentação", diz Valente.


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