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Acima do tom
Preços altos descontentam assinantes da Osesp; orquestra diz que taxa foi criada para bancar custos
de serviços exclusivos
MARCUS PRETO
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde que foram divulgados,
na quarta-feira da semana passada, os preços das assinaturas
para a temporada 2010 da
Osesp (Orquestra Sinfônica do
Estado de São Paulo) vêm causando revolta em alguns assinantes desses espetáculos.
O aumento no preço de bilheteria assumido pela instituição é de aproximadamente
17%. Mas uma nova taxa de gerenciamento das assinaturas,
somada ao custo de entrega dos
ingressos, acaba causando um
acréscimo de até 70% em alguns dos novos pacotes em relação ao valor pago pelo mesmo
produto no ano passado.
A taxa de gerenciamento é
novidade. Está sendo colocada
em prática pela primeira vez
agora, na temporada 2010.
"Aparentemente, terceirizaram o serviço administrativo e
repassaram os custos para os
assinantes", diz Fulvio Atilio
Salmaso, 66, que, com a mulher
e a irmã, assina dez programas
da Osesp há oito anos. Para ele,
o problema maior é para os idosos. "Esse aumento fez muita
diferença."
Isso acontece porque, em casos de meia-entrada -privilégio de estudantes, aposentados
e maiores de 60 anos-, essa taxa de gerenciamento, que é fixa,
acaba representando uma porcentagem bem maior em relação ao valor inicial do ingresso.
Efeito parecido sofrem os
preços das assinaturas em relação ao das entradas compradas
diretamente na bilheteria. Um
espectador que se beneficie da
meia entrada pagaria R$ 513 no
pacote mais caro da Osesp se
comprasse os ingressos avulsos. O preço para assinantes é
R$ 603 -R$ 90 mais caro.
"Assinatura tem que sair
sempre mais barato do que
quando se compra avulso. É assim quando você assina qualquer revistinha" compara Lígia
Marília Fornari, 69, que tem
quatro assinaturas "desde que
existe a Sala São Paulo" e coleciona todos os programas desde 1999. "E o assinante paga a
todo o pacote em três meses.
Merece ter esses benefícios."
Nas outras entidades que
realizam temporadas de música clássica, o preço das assinaturas é menor do que o preço
avulso dos concertos.
No Mozarteum, por exemplo, a assinatura da programação de 2010 custa entre R$ 400
e R$ 1.100 (para quem já é assinante). Se for comprar ingresso
individualmente para cada
concerto, uma pessoa pagará
25% a mais. O Mozarteum teve
mil assinantes em 2009.
A Sociedade Cultura Artística, assim como a Orquestra
Sinfônica Brasileira, esta do
Rio de Janeiro, ainda não definiram programação nem preços de 2010. Já o Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer) aumentou
a programação de cinco (em
2009) para seis (2010) concertos. O preço da assinatura em
2009, de R$ 500, sofrerá aumento de 20% em 2010.
De acordo com produtores
ouvidos pela Folha, o preço
maior dos ingressos no ano que
vem se justificaria devido a um
aumento de custos de produção desses eventos.
"Para trazer uma orquestra
ao Brasil, pagamos seguro de
instrumentos, impostos, vistos
de trabalho, direito autoral, locação de teatro, divulgação,
transporte, hotel, entre outros
custos", afirma Angelo Mugia,
coordenador de programação
do Mozarteum. "Assim, trazer
uma grande orquestra, para
três ou quatro concertos, custa
em torno de US$ 500 mil."
Segundo Mugia, o valor arrecadado com venda de ingressos
cobre apenas de 20% a 30% dos
custos de operação. "O restante
vem de patrocinadores."
Gabriel Valente, diretor musical e cultural da Tucca, afirma
que a associação inscreveu na
Lei Rouanet um projeto de R$
1,6 milhão para custear a programação de 2010. "O patrocínio para eventos de música
clássica no Brasil é feito praticamente com 100% de incentivo fiscal", diz.
A crise econômica afetou indiretamente a programação
erudita brasileira. As entidades
daqui não sofreram grandes
problemas com falta de patrocínio, mas tiveram que reparar
estragos causados fora do país.
"Em 2009, tivemos duas orquestras, uma da França e uma
da Irlanda, que cancelaram as
apresentações no Brasil porque tiveram verbas cortadas
pelos governos de seus países.
Fomos obrigados a cancelar os
eventos", revela Mugia. "Para
2010, ainda não tivemos nenhuma dificuldade, as atrações
já estão confirmadas."
"O mercado de música erudita no Estados Unidos ficou estagnado em 2009, principalmente no primeiro semestre",
avalia Valente. "[Naquele país]
Algumas associações ficaram
sem patrocínios e os artistas,
então, passaram a procurar outros mercados, como o Brasil.
Isso barateou alguns custos."
Todo o dinheiro arrecadado
com bilheteria pela Tucca é
destinado ao atendimento de
crianças com câncer. Para baratear custos, a associação traz
apenas solistas de fora. Para organizar um evento com uma
orquestra brasileira com 70 integrantes, a entidade estima
custo de cerca de R$ 250 mil
por cada concerto.
"Temos custos de ensaios, do
concerto em si. Um músico
normalmente cobra por três
horas de ensaio. Fora o gasto
com transporte e acomodação,
seguro de instrumentos, alimentação", diz Valente.
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