|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
Novas faces de Antonioni chegam a SP
Filmes desconstroem imagem de cineasta do silêncio e revelam bastidores da primeira exibição de "China"
"Sua vida era o oposto do tédio e ele não era nada introvertido", diz Di Carlo, amigo de Antonioni, que vem a SP
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO
Michelangelo Antonioni
(1912-2007), que filmou o silêncio e narrou o tédio, passou a vida a esquivar-se de
ambos. O cineasta nutria as
amizades, praticava esportes, frequentava espetáculos
e, como afirma em "Antonioni sobre Antonioni", adorava
conversar. "Não sou incomunicável", disse, em tom jocoso, num programa de TV.
O diretor passou a carreira
a explicar o conceito de "incomunicabilidade", tornado
marca de seus filmes. "Muita
gente construiu uma imagem
equivocada dele. Sua vida
era o oposto do tédio e ele
não era nada introvertido",
diz Carlo di Carlo, jurado da
34ª Mostra e diretor de "Antonioni sobre Antonioni",
que está na programação.
O documentário não chega sozinho. A cidade receberá ainda "O Olhar Imposto",
relato da primeira exibição
do documentário "China"
em Pequim, feito por Di Carlo, e o próprio "China".
BRIGUENTOS
Di Carlo e Antonioni se conheceram no início dos anos
60, em Bologna. Di Carlo sabia que o diretor estaria na cidade e decidiu ser insistente.
"Todos os dias, às 7h30 da
manhã, eu ligava para ele,
tentando marcar um encontro", conta. Di Carlo, naquela
altura, estava fazendo seu
primeiro curta-metragem. Os
dois se entenderam como só
se entendem aqueles que falam a mesma língua.
Voltaram a se encontrar
em Roma e, em 1964, Di Carlo
lançava seu primeiro livro sobre o cineasta, que já tinha
feito filmes como "A Noite" e
"Deserto Vermelho".
Quando estava se preparando para montar "Blow-Up
-Depois daquele Beijo", chamou Di Carlo para ajudá-lo a
preparar a versão italiana do
filme. "Essa relação determinou minha vida", diz. Di Carlo escreveu 13 livros sobre o
diretor e organizou uma série
de retrospectivas.
Mas Di Carlo, que é diretor
e crítico, confessa que ambos
brigaram muito também.
"Eram dois temperamentos
terríveis convivendo", diz.
"Discutíamos sobre tudo: cinema, vida, amigos." Segundo ele, Antonioni era um homem de aparência tranquila,
mas muito determinado.
A determinação o fez filmar sem parar -a despeito
das dificuldades de produção -e bater-se contra os
obstáculos que se punham à
frente de uma obra.
Foi esse o caso do desastre
diplomático gerado por "China". "Ele ficou fascinado pela China, mas passou por coisas terríveis", diz Di Carlo.
Texto Anterior: 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo - Crítica/Drama: "Road movie" sobre Uruguai se move em busca do belo Próximo Texto: Crítica/Documentário: Filme de Di Carlo tem momentos indispensáveis aos cinéfilos Índice | Comunicar Erros
|