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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
CRÍTICA DRAMA
Em bela parábola, japonês Kore-eda retrata vidas vazias
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Não apenas como potência cinematográfica, mas
também econômica, o Japão
já viveu dias mais gloriosos.
Isso ajuda a explicar por
que os (poucos) títulos do
país que chegam ao Brasil
são tomados por um melancólico clima de ressaca.
Os filmes de Hirokazu Kore-eda se enquadram nessa
categoria.
A cada filme, o diretor retoma questões básicas, típicas da infância, mas nunca
respondidas e sempre incômodas. "O que é importante
na vida?" e "o que levamos
daqui?" são algumas de suas
perguntas recorrentes.
Em "Air Doll" (Boneca de
ar), inspirado em um mangá,
Kore-eda segue com dúvidas
semelhantes, mas numa via
humanista, com um olhar
afetuoso sobre os sofridos
personagens, nunca caindo
no cinema de auto-ajuda e
suas respostas fáceis.
Nozomi é uma boneca inflável, espécie de Pinóquio
sexual. Hideo, o dono, é um
solitário garçom de meia-idade e a trata como uma pessoa
de verdade. Janta e conversa
com ela, faz passeios.
Mas, em determinado momento, Nozomi ganha vida.
E, quando o dono não está
por perto, ela sai pelas ruas
de Tóquio para tentar entender o mundo e, principalmente, saber o que significa
ter um coração, ser humano.
Kore-eda buscou explicitar seus temas na própria estrutura do filme. Em vários
momentos, o apuro estético e
a extensão de determinadas
sequências nos levam a crer
que o cineasta perdeu a mão,
optando por um cinema maneirista e apenas "belo".
Kore-eda, no entanto, está
falando de vidas vazias, seja
o interior cheio de ar de uma
boneca inflável, seja de pessoas infelizes que buscam a
silhueta perfeita ou um sentido mínimo para a existência.
Nozumi, substituta para
carências afetivas, vai trabalhar numa videolocadora.
Por ali, ela irá aprender o que
é a vida por meio do cinema,
a arte da representação do
real. "Air Doll" nos sugere
que, após tanto consumismo
desenfreado, resta apenas o
vazio. Não há substitutos para a falta de uma essência.
AIR DOLL
DIREÇÃO Hirokazu Kore-eda
QUANDO hoje, às 22h, no
Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo
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