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MILENARISMO
Historiador francês que chega ao Brasil em dezembro lança "Mil Anos de Felicidade", sobre o juízo final
Jean Delumeau recupera paraíso perdido
MARCELO REZENDE
da Reportagem Local
O historiador francês Jean Delumeau, em "Mil Anos de Felicidade
- Uma História do Paraíso", nos
avisa que, apesar de várias crenças
em contrário, o juízo final não
chegará com o novo milênio.
Professor de História das Mentalidades Religiosas do Ocidente, no
Collège de France, Delumeau, 74,
conta em seu livro, lançado agora
no Brasil pela editora Companhia
das Letras, que milenarismo não é
destruição, e sim o desejo de que
uma profecia se cumpra: o retorno
do homem ao paraíso de que foi
biblicamente expulso.
Sua obra fala de religião, mas
também da maneira que a "fé milenarista" migra para a ação de
Cristovão Colombo, a independência dos EUA, a crença no progresso ou os ideais revolucionários
do socialismo para, em nossos
dias, ser encontrado nos florais de
Bach e nas roupas e perfumes do
estilista Paco Rabane.
Delumeau, que chega ao Rio de
Janeiro no próximo mês para participar do seminário "Brasil 500
Anos - Experiência e Destino",
concedeu uma entrevista à Folha,
por fax, de Cesson-Sèvigné, em
que fala de seu trabalho, o ideal de
felicidade e o atual "luto dos países ocidentais".
Folha - Para o sr., o milenarismo
não é o medo do desaparecimento, mas um ideal de felicidade?
Jean Delumeau - É necessário
explicar o que entendo por milenarismo. Não se trata da espera de
um cataclismo que marcará a chegada do ano mil ou 2000, mas a esperança de mil anos de felicidade
sobre a Terra. O número mil ocupa
para a humanidade um papel simbólico, fundado principalmente
no capítulo 20 do Apocalipse.
O texto fala que após uma série
de catástrofes Satã será "preso por
mil anos". Os justos ressuscitarão
e reinarão sobre a terra com Cristo. Passados os mil anos, Satã será
libertado de sua prisão e acontecerá uma última batalha entre Deus e
o diabo. Acontecerá depois uma
ressurreição geral -isso porque
durante os mil anos apenas os
"justos" ressuscitaram- e o juízo
final. A história terminará e o tempo se dissipará na eternidade.
Folha - E de que maneira o sr. encontrou o tema?
Delumeau - Há 20 anos trabalho em um mesmo projeto historiográfico, que procura explorar,
de maneira sucessiva, dois aspectos do passado no Ocidente: os
medos ("O Medo no Ocidente",
1978; "Le Péché et la Peur", 1983) e
a procura pela segurança e proteção ("Rassurer et Protéger", 1989;
"A Confissão e o Perdão", 1990),
que revivem os sonhos de felicidade. Publiquei, em 1992, o primeiro
volume de uma "História do Paraíso", sob o título de "O Jardim
das Delícias", que tentava recuperar uma nostalgia do paraíso perdido, e de que maneira isso se exprimia em nossa civilização.
Era então natural que eu produzisse um segundo trabalho dentro
dessa série: "Mil Anos de Felicidade". Na verdade, um terceiro volume será lançado em alguns anos,
dedicado às representações que a
cristandade fez do "céu".
Produzir então um trabalho historiográfico dessas proporções é
necessariamente uma "aventura".
Como em "Mil Anos", que me
conduziu das profecias do Antigo
Testamento à "new age".
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