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CINEMA
Premiados da 33ª edição do festival saem hoje à noite; Rodrigo Santoro e Débora Duboc estão entre os cotados
"Bicho de 7 Cabeças" é favorito em Brasília
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O 33º Festival de Cinema de
Brasília termina hoje à noite,
quando serão divulgados os premiados. "Bicho de 7 Cabeças", de
Laís Bodanzky, é o favorito aos
prêmios do público e da crítica.
Quanto ao júri oficial, sua decisão
é imprevisível.
A exibição de "Bicho", anteontem à noite, foi uma autêntica
consagração. O público do Cine
Brasília aplaudiu de pé por vários
minutos ao final da projeção.
O curioso é que, quando a equipe do filme subiu ao palco, antes
da sessão, esboçou-se na platéia
uma vaia ao ator Rodrigo Santoro, que até abriu mão do discurso
para não piorar o ambiente.
A consistente atuação de Santoro, no papel de um jovem internado num hospício pelo pai por
causa de um cigarro de maconha,
acabou calando os que o consideravam um mero "galãzinho da
Globo". Se ganhar o Candango de
ator, não será surpresa.
Não é difícil entender o impacto
de "Bicho de 7 Cabeças". O filme,
baseado no livro autobiográfico
"Canto dos Malditos", de Austregésilo Carrano (que também subiu ao palco), é construído como
um pesadelo kafkiano que parte
da realidade mais banal para chegar às raias do horror.
Não há quem não se identifique
com o drama do protagonista e
não se revolte contra a intolerância que quase o inutilizou para a
vida. Com uma poderosa trilha
sonora de André Abujamra e canções de Arnaldo Antunes e Geraldo Azevedo, o filme atinge sobretudo os jovens libertários de hoje
e de ontem.
Mas "Bicho de 7 Cabeças" tem
concorrentes respeitáveis, cada
um com seus trunfos e fraquezas.
"Tônica Dominante", de Lina
Chamie, sofisticada ode à música
e à arte, seria a opção mais corajosa e radical do júri. Mas este pode
optar também por "Brava Gente
Brasileira", por seu olhar feminino e original sobre o contato entre
brancos e índios na colonização
do Brasil.
O filme de Lúcia Murat tem
contra si uma certa confusão do
roteiro em certas passagens, em
que se perde um pouco a localização temporal e espacial.
Outro competidor de peso, entre os longas, é "Latitude Zero",
de Toni Venturi.
O grande mérito do filme está
na construção de um espaço dramático próprio, em que a terra
desolada pelo garimpo dialoga
com a devastação interior dos
personagens.
Débora Duboc, protagonista de
"Latitude Zero", é forte candidata
ao Candango de melhor atriz por
seu desempenho arriscado, que
aposta num aparente "overacting" teatral para conferir uma dimensão trágica ao personagem.
Outra candidata ao prêmio é a
jovem Luciana Rigueira, que se
sai muito bem da difícil missão de
interpretar uma índia guaicuru
em "Brava Gente Brasileira".
Mas, a julgar pelo que já aconteceu em edições passadas do festival, o júri pode até optar diplomaticamente por premiar Maria Zilda, atriz e produtora de "Minha
Vida em Suas Mãos", dirigido por
José Antonio Garcia.
Filme voltado assumidamente
para o mercado, "Minha Vida"
começa como um ágil e algo cartunesco policial urbano, evolui
para uma espécie de "Ata-me"
carioca e, da metade para o fim,
descamba para uma história de
amor tão estapafúrdia que chega
a parecer gozação.
Sucesso dos curtas
Entre os curtas, predominaram
este ano as comédias. Algumas
delas quase fizeram vir abaixo o
Cine Brasília: a animação pornográfica "Alma em Chamas", de
Arnaldo Galvão, a crônica surrealista "A Sintomática Narrativa de
Constantino", de Carlos Dowling,
e sobretudo "Sinistro", de René
Sampaio.
Os curtas mais criativos, para
variar, vêm do Sul: o engenhoso
ensaio metalinguístico "O Sanduíche", de Jorge Furtado, e o
"tour de force" "Outros", de Gustavo Spolidoro, ousado plano-sequência numa avenida central de
Porto Alegre.
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